O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o discurso que fez
ontem em Belém (PA) para anunciar o que chamou de "maior
programa social já visto na face da Terra", além
de outras medidas na área social.
A ofensiva faz parte da estratégia de tentar transmitir
ao país uma "agenda positiva", com o objetivo
de abafar o escândalo Waldomiro Diniz. Ex-assessor do
ministro José Dirceu (Casa Civil), Waldomiro foi flagrado
em gravação de 2002 pedindo propina ao empresário
do jogo Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Na época,
atuava no governo Benedita da Silva (PT-RJ), na presidência
da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro).
Lula, que foi a Belém inaugurar parte de uma obra
de urbanização de favela, disse que investirá
nos pobres muito mais que seus antecessores.
Prometeu investimentos em saneamento, habitação
e reforma agrária (leia texto abaixo) e anunciou a
homologação das terras dos índios mandacarus,
assinada ontem, e as novas metas de atendimento do Bolsa-Família,
também definidas ontem, em Brasília.
O Bolsa-Família é o programa de transferência
de renda da União que atende a 3,6 milhões de
famílias com renda per capita de até R$ 100
mensais. "Eu não tenho dúvidas: [o Bolsa-Família]
será o maior programa social já visto na face
da Terra", disse Lula.
Logo depois de anunciar a antecipação para
julho da meta do Bolsa-Família de atender a mais 901
mil famílias (ocorreria até o final do ano),
Lula afirmou que o desenvolvimento social do país depende
de crescimento econômico e de geração
de emprego.
"Não é o Bolsa-Família que vai
resolver o problema do povo brasileiro. O que vai resolver
são as mudanças estruturais que nós queremos
que aconteçam no Brasil: a economia tem de voltar a
crescer e temos de gerar empregos. É por meio do emprego
que as pessoas conquistam a cidadania plena, sem precisar
de favor do governo federal, estadual ou municipal",
disse no discurso.
Lula defendeu a área social de seu governo. "De
vez em quando, a gente vê nos jornais que a economia
está bem, mas que a política social não
está bem. Eu vou dar um dado para vocês aqui:
em 2001, somando todos os planos sociais do governo passado,
foram gastos R$ 856 milhões. Em 2002, foram gastos
R$ 2,2 bilhões. Pois bem, em apenas um ano, vamos gastar
R$ 5,3 bilhões", disse.
O orçamento atual do Bolsa-Família é
de R$ 5,3 bilhões, mas com as promessas de atendimento
feitas ontem, o programa precisará de mais recursos.
O ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) estima
que o programa vá precisar de R$ 5,6 bilhões,
ultrapassando o valor orçado de 2004.
Em reunião no Planalto pela manhã, o ministro
Antonio Palocci (Fazenda) disse que repassarrá os novos
recursos. Até 2006, Lula promete que todas as 11 milhões
de famílias consideradas abaixo da linha da pobreza
pelo IBGE estarão incorporadas ao Bolsa-Família
-o que equivale a um orçamento quase que triplicado
para o programa, diante de 45 milhões de pessoas beneficiárias.
O clima da inauguração foi uma prévia
da campanha municipal. A pré-candidata do PT à
Prefeitura de Belém permaneceu ao lado de Lula na palanque
e foi elogiada pelo presidente.
Pneus queimados
Por volta das 9h, moradores do bairro de Val-de-Cans, na periferia
de Belém, protestaram, pedindo a inclusão do
bairro em projetos de urbanização.
Os moradores interditaram a avenida Júlio César,
que dá acesso ao aeroporto por onde Lula chegaria no
início da tarde. Fizeram barricadas com pneus e pedaços
de madeira. Só desocuparam a avenida após a
chegada da Polícia Militar. Ninguém ficou ferido.
GABRIELA ATHIAS
da Folha de S. Paulo, enviada especial a Belém
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