O PT recuou, após pressão do governo e de líderes da
base de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
e desistiu de realizar um ato nacional em desagravo ao ministro
José Dirceu (Casa Civil).
Inicialmente previsto para a próxima quarta-feira,
em Brasília, o ato pró-Dirceu foi esvaziado
a pedido do próprio José Dirceu. Em seu lugar,
a sigla fará uma reunião política em
São Paulo, no dia 5, para discutir a conjuntura econômica
e as eleições deste ano e o caso Waldomiro Diniz.
Ex-assessor de Dirceu na Casa Civil, Waldomiro foi flagrado
pedindo propina ao empresário do bingo Carlos Cachoeira,
em 2002, quando trabalhava para o governo de Benedita da Silva
(PT) no Rio de Janeiro.
Em reunião do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva com seus principais assessores e ministros ontem no
Planalto, a proposta do desagravo foi classificada de "loucura"
e "equívoco".
O temor de alguns setores do governo era de que um ato pró-Dirceu,
ao invés de ajudar a superar a crise, colocasse mais
gasolina na fogueira, a ponto de prejudicar o andamento da
economia. A manifestação de apoio foi bombardeada
também pela oposição.
Desde que o caso Waldomiro explodiu, no último dia
21, Dirceu vem sendo pressionado pela oposição
a se afastar do cargo até que as denúncias sejam
investigadas.
Até o final da tarde de ontem, a direção
do PT insistia na versão de que a manifestação
havia sido "transferida" para São Paulo.
Mas, no início da noite, nota do partido afirmou: "O
ato em solidariedade ao ministro José Dirceu, proposto
por prefeitos e lideranças petistas, foi cancelado".
O presidente do PT, José Genoino, afirmou que o encontro
em São Paulo não terá tom de desagravo.
"Eu nunca usei essa palavra [desagravo]. Além
disso, o próprio José Dirceu me telefonou para
dizer que não precisava de um desagravo. Portanto,
faremos uma reunião política em que, mais uma
vez, iremos manifestar nossa total confiança no ministro",
disse Genoino ontem.
"A direção nacional avaliou que este é
um momento muito importante para o partido, que precisa concentrar
esforços nos debates preparatórios para a campanha
eleitoral", disse Sílvio Pereira, secretário
de Comunicação do PT.
Waldomiro Diniz foi exonerado a pedido após o conteúdo
da fita de vídeo em que aparece negociando com o empresário
Carlinhos Cachoeira em 2002, quando era presidente da Loterj,
ter sido divulgado. O ex-assessor já dividiu apartamento
com José Dirceu. O ministro diz que não sabia
das irregularidades. O Ministério Público Federal
investiga a atuação de Waldomiro com empresários
do bingo na atual gestão.
Longe do Planalto
A realização do desagravo em Brasília
trombaria com a estratégia do governo de afastar do
governo e do Planalto a crise.
Segundo Genoino, o motivo da transferência da reunião
foi estrutural. "Em Brasília não conseguimos
um local que pudesse receber todos os dirigentes." Mas
o petista afirmou também que na capital federal há
muito "bochicho" e que é "recomendável"
ao PT fazer suas reuniões longe do Planalto.
"É bom que a reunião seja feita fora da
Esplanada dos Ministérios. Brasília tem uma
concentração muito grande de futrica, bochicho
e "zunzunzum" que produz uma especulação
que vai além do que é real", disse.
Atos de desagravo em todos os Estados, recomendados pela
direção nacional, também foram suspensos.
A idéia inicial do PT era realizar o desagravo em um
local aberto, próximo ao Congresso ou ao Planalto.
Agora, o partido fará a reunião, a portas fechadas,
provavelmente em sua sede nacional.
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
RANIER BRAGON
da Folha de S. Paulo
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