Mesmo com uma estrutura montada e avaliada em cerca de R$ 600 mil, o hemocentro
do HC (Hospital de Clínicas), da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas), possui um banco de sangue de cordão
umbilical com 80% de ociosidade. O banco possui 200 bolsas
de sangue armazenadas, mas com capacidade para guardar mil
unidades.
O sangue de cordão umbilical é rico em células-tronco,
fundamentais para o transplante de medula óssea -feito
em pacientes com câncer no sangue, em especial, leucemia.
Além do HC, só outras cinco unidades hospitalares
no país armazenam sangue de cordão umbilical:
os hospitais da USP (Universidade de São Paulo) em
Ribeirão Preto e em São Paulo, o Albert Einstein,
em São Paulo, a Universidade Federal do Paraná
e o Inca (Instituto Nacional do Câncer), no Rio.
A inexistência de um banco nacional de sangue de cordão,
que interligaria informações do país
inteiro, torna mais difícil o acesso das pessoas aos
dados e a chance de encontrar possíveis doadores.
Segundo a hematologista e diretora do serviço de transfusão
do hemocentro da Unicamp, Ângela Cristina Malheiros
Luzo, toda a estrutura foi montada em 1999, quando os seis
hospitais resolveram criar o banco. "A expectativa era
que cada hospital coletasse 1.500 bolsas em três anos
e depois eles formassem um banco único, com intercâmbio
internacional, para facilitar a localização
de células compatíveis para os doentes que precisam
de transplante."
Porém a falta de recursos e investimentos por parte
do Ministério da Saúde interrompeu os objetivos
desses hemocentros.
"Nenhum dos hospitais conseguiu atingir a meta de coletar
1.500 bolsas. Cada procedimento custa, em média, R$
3.000. Para manter as unidades congeladas, há uma manutenção
de mais R$ 300 por ano", disse a médica.
Toda a estrutura existe na Unicamp. São dois contêineres
para armazenar as bolsas com as células congeladas,
cada um com capacidade para 500 bolsas de sangue. Um deles
ainda está fechado.
As bolsas para o armazenamento são importadas e custam,
em média, US$ 30 cada. Além disso, 500 mililitros
de reagentes utilizados durante a manipulação
do sangue custam cerca de US$ 500.
"O procedimento de armazenamento e coleta de sangue
de cordão é extremamente valioso, pois as células
são fundamentais. Acontece que o custo é muito
alto e fica inviável manter o serviço sem investimentos",
disse Luzo.
Para dar continuidade à coleta de sangue de cordão,
a hematologista disse acreditar que a Unicamp teria de receber
um investimento de R$ 400 mil.
A hematologista Sara Saadi, vice-diretora do hemocentro da
Unicamp, afirma que o objetivo do banco nacional de cordões
é possibilitar o acesso democrático para todo
o país.
"A intenção é possibilitar as buscas
de um doador compatível em um banco nacional",
disse ela. A dificuldade em encontrar um doador de medula
compatível é resultado da diversidade de raças
da população brasileira e da miscigenação
entre elas.
"O embrião do banco nacional está acontecendo
nos hospitais mais estruturados do país. O ideal é
termos o número suficiente de bolsas para suprir as
necessidades. Hoje, isso gira em torno de 12 mil bolsas de
sangue", disse Saadi.
FERNANDA BASSETTE
Free-lance para a Folha de S. Paulo
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