O governo pretende anunciar em breve
um pacote de medidas de incentivo ao setor de infra-estrutura
urbana. Os empresários que estão em contato
com a área econômica do governo informam que
saneamento, habitação e transportes terão
cerca de R$ 20 bilhões neste ano, mais do que o dobro
gasto em 2003.
As medidas fazem parte da agenda "positiva" de
mudanças microeconômicas que deve ser acelerada
para reduzir a repercussão do caso Waldomiro Diniz.
O presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria
da Construção), Paulo Simão, disse que
o setor terá reuniões na semana que vem com
o governo para tentar fechar algumas medidas.
No ano passado, foram gastos cerca de R$ 8 bilhões
na área de infra-estrutura urbana. Agora, a perspectiva
é contar com R$ 12,5 bilhões para saneamento
e habitação e mais R$ 6 bilhões da Cide
(contribuição sobre o consumo de combustíveis)
para transportes. A Caixa Econômica Federal teria mais
R$ 2 bilhões de recursos próprios. Os recursos
privados ainda não estão estimados.
"O ministro Palocci [Antonio Palocci Filho, da Fazenda]
nos garantiu que haverá liberação de
recursos da Cide neste ano", disse Simão. No ano
passado, praticamente todo o dinheiro arrecadado foi economizado
para o superávit primário (economia de receitas
para o pagamento de juros).
O plano do Ministério das Cidades para os R$ 12,5
bilhões sob seu comando já está na Casa
Civil e deve atender 11 regiões metropolitanas.
Estímulo ao setor
De acordo com o superintendente-geral da Abecip (Associação
Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário
e Poupança), Carlos Eduardo Fleury, as medidas em discussão
têm o objetivo de estimular o setor imobiliário,
que é um dos que mais emprega. Uma das idéias
é garantir em lei que o mutuário com ação
na Justiça pague uma parte de sua prestação
mensal.
Por exemplo, se a ação questiona a correção
pela Taxa Referencial, ele teria de pagar pelo menos o principal
mais os juros. Somente no Sistema Financeiro da Habitação,
são cerca de 300 mil ações judiciais
em andamento.
Outra mudança em estudo é restringir as possibilidades
de inadimplência em relação ao pagamento
dos condomínios de edifícios e do IPTU (Imposto
Predial e Territorial Urbano).
"Pela legislação, os valores atrasados
de condomínio têm preferência sobre outros
débitos. E essas dívidas algumas vezes são
maiores que os valores dos imóveis", disse Fleury.
Ou seja, no caso de venda do imóvel, paga-se primeiro
o condomínio e somente depois as prestações
em atraso.
Também está em estudo a reformulação
da medida provisória editada em 2001 que criou uma
separação de empreendimentos em caso de falência
da incorporadora. No final da década de 90, com a crise
da Encol, a medida surgiu como solução para
que os compradores de imóveis pudessem arcar com as
despesas de construção de seus próprios
edifícios. Mas a Receita incluiu um dispositivo que
não dava o tratamento diferenciado para os seus próprios
créditos. A idéia agora é separar esses
débitos também.
SÍLVIA MUGNATTO
da Folha de S.Paulo, em Brasília
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