Setenta estudantes negros prometem se acorrentar hoje no interior da reitoria
da USP, protestando contra a não adoção
de cotas para alunos afrodescentes. "Vamos ficar lá
o tempo que for necessário", disse Eduardo Pereira
Neto, 41, coordenador dos universitários da ONG Educafro
(Educação e Cidadania de Afrodescentes e Carentes).
A Educafro tem uma rede de 126 cursinhos em toda a Grande
São Paulo, "com professores e orientadores trabalhando
voluntariamente", diz Pereira Neto.
Antes dessa ação, os membros da Educafro pretendem
ocupar salas de aulas das faculdades com menor número
de negros como a de Economia e Administração,
a Politécnica e mesmo a ECA, Escola de Comunicações
e Artes.
"Não vamos apenas interromper a aulas, vamos
falar de cidadania e chamar a sociedade para uma reflexão
sobre as desigualdades", disse Pereira Neto. Segundo
ele, artistas e personalidades participação
da manifestação e advogados estarão dando
garantias legais para essas ações.
Segundo a Educafro, 79,43% dos universitários da USP
são brancos, 8,34% são pardos e 1,3% são
negros. Pelo censo, os afrodescentes somam 46,5%.
Pereira lembrou que a reserva de cotas para negros tem um
efeito bem mais amplo e imediato. "É um instrumento
de visibilidade urgente, emergencial, para dar esperança
a milhões de jovens que vivem sem expectativas."
Ele citou a UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro)
que, além de cotas, criou uma espécie de bolsa-auxílio
para dar condições aos alunos pobres.
Pereira Neto disse que uma comissão da Educafro foi
recebida pelo reitor no último dia 18. "Ele se
mostrou intransigente. Disse que as mudanças devem
ser universalistas, atingindo todo o sistema público
e começando do ensino fundamental."
O número de 70 negros que pretendem se acorrentar
é uma lembrança aos 70 anos USP, comemorado
neste 2004.
As informações são
da Folha de S. Paulo.
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