O maior prejudicado político
do escândalo envolvendo Waldomiro Diniz foi o seu ex-chefe:
67% dos eleitores brasileiros acham que o ministro da Casa
Civil da Presidência da República, José
Dirceu, deve se afastar do cargo.
A população também se declarou amplamente
a favor da instalação de uma CPI: 81% responderam
que esse é o melhor caminho para apurar o ocorrido.
Esse é o resultado de pesquisa Datafolha feita ontem
em todo o país com 2.306 eleitores, em 132 cidades
em todas as unidades da Federação. A margem
de erro do levantamento é de dois pontos percentuais,
para mais ou para menos.
Dirceu foi o superior imediato de Waldomiro, que ocupou o
cargo de subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência.
Foi exonerado, a pedido, no dia 13 do mês passado, quando
se tornou pública uma fita de vídeo na qual
pedia propina para si próprio e doações
para campanhas.
Apesar de a fita ser de 2002, Waldomiro é conhecido
de José Dirceu desde, pelo menos, 1992. Chegaram até
a dividir um apartamento em Brasília.
A população soube preservar o governo do escândalo
e deixou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sair
ileso. A carga negativa dos eleitores se voltou contra José
Dirceu.
Os 67% que sugerem o afastamento do ministro da Casa Civil
são divididos em duas categorias: 43% sugerem que José
Dirceu se afaste enquanto investigações são
realizadas e 24% querem que ele renuncie em definitivo. Só
18% dos entrevistados defendem a permanência do ministro
no cargo e 15% não sabem responder.
Para 43%, Dirceu estava envolvido diretamente nas irregularidades
cometidas por Waldomiro Diniz. Outros 25% dizem que não
houve envolvimento e 31% não souberam responder.
Se depender de 45% dos eleitores, o presidente deve afastar
o seu ministro da Casa Civil até que as investigações
sobre o caso estejam concluídas. Para 23% a melhor
opção é a demissão imediata. Só
18% acham apropriado Lula mantê-lo no cargo.
Lula preservado
O Datafolha também perguntou aos eleitores sobre o
envolvimento de Lula no escândalo. Apenas 16% dos eleitores
acham que o presidente da República tinha conhecimento
das atividades de Waldomiro. Para 60%, ele não sabia
o que se passava.
Quando questionados se o presidente esteve diretamente envolvido
nas irregularidades, 70% dos entrevistados disseram não
acreditar nessa hipótese.
"A população personificou em José
Dirceu o escândalo e a avaliação negativa
do episódio", diz o diretor-geral do Datafolha,
Mauro Paulino.
O desgaste de José Dirceu não colou nos petistas
de um modo geral. O Datafolha pergunta aos eleitores sobre
a percepção de corrupção em determinados
partidos. Em julho do ano passado, 19% dos eleitores achavam
que no PT a "maioria está envolvida" com
corrupção. Na pesquisa de ontem, esse percentual
ficou inalterado. Para 29%, "muitos" petistas estão
envolvidos, contra 24% da última pesquisa disponível.
Maioria quer CPI
Apesar de o eleitorado ter sido condescendente com o governo
e com o presidente, uma ampla maioria (81%) respondeu ser
a favor da instalação de uma CPI. O paradoxo
é que apenas 53% dos entrevistados declararam ter tomado
conhecimento do episódio.
É importante registrar que o pesquisador do Datafolha,
no início das entrevistas, primeiro faz várias
perguntas -inclusive sobre a popularidade de Lula- sem mencionar
o caso Waldomiro Diniz. Depois, pergunta se o eleitor teve
conhecimento do escândalo. Só em seguida faz
uma breve descrição, de forma objetiva.
Após escutarem as informações sobre
o caso é que os entrevistados são questionados
se são a favor de uma CPI -81% se manifestaram a favor.
"Mesmo sem conhecer muito bem o escândalo, a tendência
da população é sempre apoiar a investigação
por meio de CPI", explica Mauro Paulino.
FERNANDO RODRIGUES
da Folha de S. Paulo
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