Nunca
se publicou tanto e nunca se leu tão pouco. O oxímoro
ao lado não se aplica, no entanto, ao recente sucesso
do portal de literatura e afins do Ministério da Educação,
o Domínio
Público. Em um mês de vida, o sitio que colocou
na internet mais de mil obras de domínio público
de grandes autores nacionais e internacionais foi acessado
62 milhões de vezes.
Se você procura um texto de Joaquim Manuel de Macedo
ou mesmo do outro Joaquim, o Maria Machado Assis, vai encontrar
no DP. E melhor: de fontes de alta confiabilidade, coisa cada
vez mais rara no vasto mundo da internet.
O projeto – de autoria de Fernando Haddad, secretário
executivo do MEC – não gastou um tostão
dos cofres públicos. Segundo o ministério, foi
realizado por quatro funcionários, num período
de seis meses – os três primeiros consumidos em
estudos de viabilidade, pesquisas, planejamento e formação
de parcerias, e os outros três em trabalho de desenvolvimento
dos programas e de infra-estrutura tecnológica.
Acervo feito em parceria
O acervo foi composto sobretudo a partir das parcerias
formadas pelo portal. “Oitenta por cento deste acervo
é composto por obras da literatura brasileira, já
em domínio público, e que foram cedidas pela
Biblioteca Virtual da USP e pela Fundação Biblioteca
Nacional. Já recebemos uma coleção de
mais de mil outras publicações, a serem divulgadas
em breve, cedidas pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada - Ipea, vinculado ao Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão”, conta Espartaco Madureira,
assessor do Ministério da Educação e
um dos coordenadores do projeto.
Este ano, o MEC pretende investir quatro milhões em
novas parcerias e na digitalização de outros
textos. “Este projeto, que ainda está iniciando,
permitirá que qualquer cidadão, mesmo em uma
localidade sem uma biblioteca – mas com um telecentro
ou qualquer outra forma de acesso à Internet –,
possa encontrar, de forma rápida e simplificada, milhares
de textos, sons, imagens e vídeos, em domínio
público ou com autorização para divulgação
no portal”, anuncia Espartaco.
O projeto não é o único a disputar os
19 milhões de internautas brasileiros, segundo os dados
do IBGE de 2003. O crescente número de aquisição
de microcomputadores e de pontos públicos de internet
– só em 2004, o Ministério das Comunicações
implantou 3.200 pontos gratuitos de internet no país
– faz com que as bibliotecas virtuais sejam cada vez
mais visitadas, tornando-se ferramenta indispensável
para estudantes e professores. No Brasil, segundo estudo divulgado
em dezembro pelo Fórum Econômico Mundial, o número
de usuários da rede quadruplicou nos últimos
três anos. O aumento de 309% coloca o país em
39o lugar no ranking das nações que mais utilizam
recursos de tecnologia da informação para incrementar
seu crescimento econômico e educacional.
O futuro da língua
Com isso, bibliotecas virtuais que garantem informação
segura, como a Biblioteca
Virtual do Estudante de Língua Portuguesa, da Escola
do Futuro da USP, são cada vez mais necessárias
e mesmo indispensáveis. Criada há seis anos,
a BibVirt é um dos maiores portais de textos não
só de domínio público mas também
de publicações recentes como teses, artigos
e imagens de todos os assuntos imagináveis. Pinturas
de Debret? Tem lá. Aves brasileiras? Também.
Nos últimos anos, o projeto foi amealhando galardões
como seis prêmios iBest e o prêmio da Secretaria
de Estado da Cultura de São Paulo. Como o portal do
MEC, a biblioteca da USP também fez uma série
de parcerias para estruturar seu catálogo.
O pai de todos, no entanto, é o Projeto
Gutenberg , que há trinta anos vem recolhendo material
literário digitalizado. Fundado em 1971, por Michael
Hart, o projeto conta com um acervo em 16 línguas,
dispondo de milhares de livros prontos para serem “baixados”,
e é o espelho de numerosas iniciativas como o Domínio
Público do MEC. “Os projetos que talvez tenham
tido um maior impacto na elaboração do portal
Domínio Público foram o Projeto Gutenberg, por
ser o precursor e pelo número de obras disponíveis;
o Projeto
da Phoenix Library , pela diversidade do seu acervo e
pela articulação de uma comunidade internacional
de colaboradores; e, finalmente, o Projeto
da Biblioteca Digital da Índia , pela grandiosidade
do desafio proposto, tanto no número de instituições
envolvidas quanto pela meta a ser alcançada: um milhão
de obras digitalizadas, até o ano de 2005”, conta
Espartaco Madureira.
Outros portais menores e menos ambiciosos são igualmente
generosos com a informação, caso do site da
Academia
Brasileira de Letras, que por meio de uma parceria com
a Fundação Biblioteca Nacional e com o apoio
da Fundação Banco do Brasil colocou na internet
a obra completa de Machado de Assis. O bruxo do Cosme Velho
certamente agradece. Além disso, ainda no quesito literatura
brasileira, outra página preciosa é a da Universidade
Federal de Santa Catarina , na qual o internauta pode
encontrar, além do Machado, obras de Gregório
de Matos e Tomás Antonio Gonzaga, entre outros.
Não será por falta de livros, idéias
e muito texto gratuito que a literatura não ganhará
novos leitores. Navegar, enfim, nunca foi tão preciso!
VALÉRIA LAMEGO
da Fundação Banco do Brasil
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