Os estudantes
da educação básica estão procurando
fórmulas alternativas para conseguir o certificado
de conclusão mais rápido e entrar no mercado
de trabalho. A conclusão é de Eliezer Pacheco,
presidente do Inep, que divulgou ontem os dados preliminares
do Censo Escolar de 2004. Os dados finais serão divulgados
somente no começo do próximo ano.
A análise é baseada no pequeno aumento das
matrículas no ensino médio em relação
ao ano passado. Ficou em apenas 1%. "Está aquém
do que esperávamos", disse. Mas, se observados
os números da educação para jovens e
adultos (EJA), que pode conferir o certificado do ensino médio
em menos de um ano, é possível interpretar o
movimento.
Mercado
Numa análise global, o EJA, nas instituições
públicas, cresceu 5% em relação a 2003.
O nível de ensino confere, em programas diferentes,
certificados da educação fundamental de 1ª
a 4ª e de 5ª a 8ª séries, e de ensino
médio. Se separadas apenas as matrículas no
EJA que dá certificados do ensino médio, as
matrículas no setor público cresceram 26%, um
aumento de 785 mil inscrições para 988 mil.
"O jovem está sendo pressionado por um mercado
mais exigente em relação ao nível de
ensino. Para conseguir um trabalho, busca um meio mais curto
para isso", afirmou. A interpretação é
baseada também nos dados que mostram que uma grande
quantidade de estudantes do ensino fundamental está
com idade acima da recomendada para o nível de educação.
São 22% do total com idade acima da recomendada.
Atraso
"Como nós temos um atraso escolar bastante
grande, temos que considerar que quem termina o ensino fundamental
muitas vezes o faz com uma idade tão avançada
que o ensino médio pode não ser tão atrativo.
O movimento pode ser para o EJA", afirmou Nélio
Bizzo, vice-diretor da Faculdade de Educação
da USP e ex-vice-presidente da Câmara de Educação
Básica do CNE (Conselho Nacional de Educação).
Segundo ele, outra alternativa buscada por essa população
é o ensino técnico, que dará uma educação
mais voltada para o mercado de trabalho.
As matrículas do ensino técnico cresceram,
em um ano, 7% nas escolas públicas (de 264 mil matrículas
para 282 mil) e 21% nas instituições privadas
(de 325 mil para 392 mil).
O movimento das particulares foi mais forte na região
Norte, com crescimento de 47% (de 6.700 para 9.800), e das
públicas no Sul (de 50,7 mil para 65 mil ).
Tanto Bizzo como Pacheco ressaltam que os governos federal
e estaduais devem se preocupar com a expansão do ensino
médio, pois haverá uma pressão de estudantes
para esse nível de educação nos próximos
anos. Segundo eles, o baixo aumento no ensino médio
pode indicar que, em algumas regiões, os estudantes
não estão encontrando vagas.
Custos
Para Maria Clara Di Piero, coordenadora do Departamento
de Pesquisa e Avaliação da Ação
Educativa, o aumento do EJA também pode ser explicado
por ser um nível de ensino mais barato para os Estados.
A educação de jovens e adultos é baseada
em ensino a distância, telecurso ou outras modalidades
que precisam de uma infra-estrutura menor do que as escolas.
"Os governos estaduais podem estar empurrando esses
alunos para o EJA. Eles só precisam, por exemplo, de
apenas um orientador, em vez de um professor para cada série."
LUIS RENATO STRAUSS
da Folha de S.Paulo
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