Saem casuarinas, figueiras
e amendoeiras, entram ipês — o roxo, o tabaco
e o branco — paus-brasis, paus-ferros, sibipirunas,
oitis. Um ano depois de anunciada a nacionalização
das árvores das áreas urbanas da cidade, que
prevê a substituição gradual de espécies
exóticas por nativas, a Fundação Parques
e Jardins (FPJ) mostra os primeiros resultados: das 16 mil
árvores plantadas nos últimos 12 meses, cerca
de 90% são originárias da Mata Atlântica,
nada menos que 14.400 exemplares.
A mudança ainda não é significativa
no universo das cerca de 600 mil árvores de toda a
cidade, mas indica o início de um projeto de longo
prazo. A substituição é lenta porque
o plantio de árvores nativas se dá apenas após
a morte de espécies exóticas ou em áreas
onde não havia nada plantado. Ainda assim, há
casos em que espécies de outros países são
replantadas após a morte, pela importância paisagística
ou histórica na cidade.
Impacto da nacionalização
Para a engenheira agrônoma Denise Bordallo
Amorim, chefe da Divisão de Arborização
da FPJ, em dez anos o carioca sentirá a diferença:
"O movimento é de substituição
gradual pelas nativas, mas algumas espécies exóticas
importantes para a cidade são repostas após
a morte. Ainda não sentimos muito porque as mudas não
têm tanto impacto na cidade. Com o tempo, a população
vai perceber que as nativas respondem melhor ao clima tropical".
Segundo levantamento do paisagista Adilson Roque dos Santos,
publicado pelo GLOBO ano passado, 84% das árvores da
cidade são exóticas. A espécie mais encontrada
é a indiana amendoeira, em 27% do espaço urbano
carioca.
A invasão estrangeira começou no Império,
quando portugueses introduziram espécies no país
e, mais tarde, foi seguida por paisagistas como o francês
Auguste Glaziou, autor de jardins da cidade.
Ao longo dos anos, cerca de 500 mil árvores da cidade
serão substituídas. As árvores plantadas
este ano pela FPJ são parte do programa Habite-se,
que determina o plantio deu uma certa quantidade de exemplares
a partir de um cálculo de área construída.
Além das 16 mil mudas em áreas públicas,
foram plantadas mais sete mil em terrenos particulares. A
maior compensação verde vem das construções
industriais: uma muda a cada 20 metros quadrados de construção.
A menor é exigida nas residenciais: uma muda a cada
150 metros.
O programa permitiu, por exemplo, que as australianas casuarinas
do canteiro central da Lagoa Rodrigo de Freitas fossem substituídas,
após a morte, por ipês. Em outro ponto da Lagoa,
os técnicos plantaram pau-brasil. Mas a maior parte
das mudas foi para as zonas Norte e Oeste. Em Inhaúma,
o destaque são as fileiras de ipê-roxo e barba-de-barata
plantadas na Rua Padre Januário.
Na mesma linha da FPJ, a Secretaria municipal de Meio Ambiente
vem fazendo há 17 anos um replantio das áreas
naturais de Mata Atlântica desmatadas com o projeto
Mutirão Reflorestamento. Desde o início do projeto,
foram plantadas 3,6 milhões de mudas em 16 milhões
de metros quadrados.
TULIO BRANDÃO
do jornal O Globo
|