FORTALEZA
(CE) - Mulheres com potencial de trabalho mascarado pela cegueira,
surdez, autismo, deficiência física ou qualquer
outra limitação que funciona como desvantagem
na busca de um emprego formal. Situação predominante
no Ceará, mas que está sendo revertida com projetos
de capacitação e empreendedorismo, ferramentas
da inclusão no mercado de trabalho de mulheres com deficiência.
É esse o enfoque do I Encontro Nacional da Mulher
Trabalhadora e Empreendedora com Deficiência no Ceará,
promovido pela Secretaria do Trabalhado e Empreendedorismo
(SETE) e iniciado, ontem. O encontro tem como principal meta
discutir formas de inclusão dessas mulheres no mercado
de trabalho, com ênfase no empreendedorismo.
O número de pessoas com deficiência fora do
mercado de trabalho ainda é muito grande no Ceará,
de aproximadamente 450 mil pessoas. Parcela da população
que é carente e não tem acesso à educação
básica e enfrenta preconceito. “A mulher já
sofre discriminação de um modo geral, imagina
a situação de uma mulher deficiente que não
tem acesso à escola, mora em favela e depende da ajuda
dos parentes”, ressalta o coordenador da célula
de inclusão de segmentos especiais da SETE, Marcius
Montenegro.
Diante desse quadro de exclusão das pessoas com deficiência,
a Secretaria espera colocar no mercado, por ano, 2 mil pessoas
com deficiência, até 2006. “Nós
não queremos que o portador seja empregado por pena,
queremos provar que ele é produtivo e capacitado”,
afirma o secretário do trabalho e empreendedorismo,
Roberto Matoso.
Além da qualificação profissional que
a secretaria realiza através de cursos de capacitação
em áreas administrativas e culturais, a idéia
agora será fornecer subsídios para que as mulheres
possam trabalhar em casa, montando seu negócio.
A via de acesso para essa emancipação depende
da parceria entre qualificação e linhas de crédito
para pessoas com deficiência, que será articulada
pela SETE junto aos bancos. “Sem a inclusão econômica,
você não tem a inclusão política”,
conclui Matoso.
No primeiro dia do Encontro foram homenageadas 15 mulheres
que têm um histórico de luta e defesa da inclusão
social de pessoas com deficiência, algumas delas também
deficientes, o que já demonstra a quebra do pensamento
paternalista que, geralmente, rodeia esse segmento da população,
quando se acredita que eles precisam de porta-vozes para lutar.
O I Encontro Nacional da Mulher Trabalhadora e Empreendedora
com Deficiência no Ceará será encerrado
hoje, no auditório da Federação das Indústrias
do Ceará (FIEC), com mini-cursos, apresentações
culturais e palestras.
Dados
1,28 milhões de cearenses são portadores de
deficiência. Ao todo, 450 mil pessoas com deficiência
no Ceará fazem parte da população economicamente
ativa, mas apenas 9,5 mil têm Carteira de Trabalho.
Cursos
Cestas de decoração feitas com material
reciclado, peças de fácil confecção
que para Kátia Barbosa Mendonça, 24 anos, portadora
de autismo, representam uma mudança de vida. Depois
de participar de cursos de capacitação oferecidos
pela SETE, Kátia pode agora contribuir na renda familiar,
mas sobretudo, recebeu uma grande dose de auto-estima.
Morando com a mãe aposentada e viúva e com
mais três irmãos, ela se sente satisfeita em
poder ajudar nas despesas domésticas, mesmo com um
lucro ainda pequeno, mas que representa um ganho social impossí
vel de ser contabilizado.
A alegria de Kátia, que há seis anos faz parte
da Casa da Esperança, uma instituição
que trabalha com portadores de autismo, fica visível
nas cores fortes dos quadros que ela também pinta.
O artesanato e a pintura foram ferramentas de inclusão
não só financeira, mas social, para pessoas
como Kátia, e por esse motivo foram escolhidos como
primeira área de produção para o projeto
de empreendedorismo da SETE. “O artesanato é
uma grande possibilidade de inclusão de renda”,
avalia o secretário Roberto Matoso.
Pensando nisso, serão oferecidos cursos de capacitação
em artesanato e com as linhas de crédito as mulheres
com deficiência e mães de pessoas com deficiência
poderão adquirir matéria-prima para confeccionar
os produtos e poder vendê-los.
A comodidade do trabalho e a criatividade que envolve também
são incentivos para o pioneirismo do artesanato. A
SETE está desenvolvendo até um selo que será
adicionado a esses produtos, identificando que foram fabricados
por pessoas portadoras de deficiência, o que será
um estímulo para o consumo e uma forma de reconhecimento
da capacidade e produtividade dessas pessoas.
As informações são
do Diário do Nordeste - CE.
|