FORTALEZA
(CE) - O Estado do Ceará, ao lado de Goiás,
Rio de Janeiro e São Paulo, está na mira das
autoridades nacionais e internacionais que atuam no combate
ao tráfico de seres humanos. Um estudo elaborado pela
Organização das Nações Unidas
(ONU) comprovou que Fortaleza, ao lado de Goiânia são
as capitais brasileiras de onde mais saem mulheres brasileiras
para se prostituírem na Europa, onde acabam sendo mantidas
em regime de semi-escravidão. Aliciadas por agenciadores
brasileiros e estrangeiros, as mulheres - com idades que variam
de 18 a 25 anos, em sua maioria - viram presas fáceis
na armadilha dos traficantes de seres humanos para fins de
comércio sexual. São quadrilhas organizadas
que vêm sendo combatidas pelas autoridades brasileiras
e européias, principalmente na Espanha, Itália,
França e Portugal.
O aliciamento das garotas pode ocorrer de duas formas. Na
primeira, elas são abordadas por supostos turistas
em zonas de praia e convencidas a participarem de ‘programas’,
ocasião em que são fotografadas. As fotos são
enviadas para a Europa e chegam às mãos dos
‘cafetões’, donos de boates de ‘strip-tease’
instaladas em cidades turísticas.
Ao ‘cafetão’ cabe escolher quais as garotas
que lhe interessam para o ‘trabalho’ nas boates.
O passo seguinte é ele enviar o dinheiro (euro ou dólar)
a fim de que o agenciador local prepare as garotas para a
viagem internacional. A elas são fornecidas roupas,
sapatos, acessórios e, por fim, providenciado o passaporte.
Namorados
A segunda forma detectada pelas autoridades é
mais sutil e torna-se difícil uma repressão
porque, à primeira vista, não transparece como
crime. Os próprios agenciadores estrangeiros vêm
ao Brasil e aqui arranjam ‘namoradas’, terminam
sendo convencidas a viajar para conhecer a terra natal daquele
pelo qual se apaixonaram.
O resultado desse aliciamento - seja de que forma ele aconteceu
- quase sempre torna-se um pesadelo para as garotas. Na Europa,
elas acabam sendo mantidas em cárcere privado, submetidas
às regras de exploração sexual impostas
pelos traficantes internacionais: ficam sem o passaporte e
são forçadas a se prostituir para saldar todas
as ‘despesas’ dos aliciadores, isto é,
têm que pagar desde as passagens de avião até
a comida que consumiram na viagem. Dali em diante, viram ‘escravas
brancas’, forçadas a fazer shows e ‘programas’
nos prostíbulos instalados em zonas turísticas.
Em Fortaleza, as autoridades locais já detectaram
diversos casos de garotas - e também rapazes - que
são levadas pelos agenciadores. Algumas somente retornaram
ao Brasil depois que as autoridades brasileiras e estrangeiras
foram acionadas pelas famílias. Na cidade de Santander,
na Espanha, a Polícia local, com o auxílio de
informações levantadas pela Interpol, localizou
uma dessas boates, onde várias mulheres - de diversos
países - eram mantidas sob escravidão sexual.
Espelho
A diretora da Divisão de Apoio ao Turista
(DAT), delegada Cândida Brum, explica que o trabalho
realizado no Ceará, no combate ao tráfico de
mulheres para o exterior, tornou-se referência nacional.
No ano passado, a equipe da DAT identificou parte de uma rede
internacional que recrutava jovens em Fortaleza e mandava
para a Espanha. O principal agenciador foi identificado e
preso, mas, por decisão da Justiça local, está
novamente em liberdade.
As pistas seguidas pela DAT levaram à identificação
de agenciadores, mas também de uma grande quantidade
de garotas e rapazes aliciados. Fotografias de moças
que fariam parte dos ‘books’ enviados para a Europa
foram apreendidos. Há outras provas como passaportes,
carteiras de identidade e até cartões de apresentação
dos locais onde as cearenses ‘trabalharam’ para
a rede de exploradores.
Segundo Cândida, há casos de garotas moradoras
de favelas da periferia de Fortaleza que fazem até
quatro viagens à Europa por ano. “É o
tráfico avulso. Lá elas ficam durante um mês,
em companhia de um suposto namorado, e retornam para suas
casas”, conta a delegada.
As informações são
do Diário do Nordeste, Fortaleza - CE.
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