Ministro
da Educação durante os dois mandatos de Fernando
Henrique Cardoso, o gaúcho Paulo Renato Souza qualifica
a proposta de reforma universitária apresentada na
segunda-feira de "uma colcha de retalhos". Para
Paulo Renato, falta coerência às proposições
apresentadas pelo governo.
"A proposta me passa a impressão de ter sido
feita sem uma linha que servisse de diretriz".
A seguir, as posições do ex-todo poderoso da
Educação em relação a algumas
das idéias principais anunciadas pelo ministério:
Loteria para financiar as universidades públicas
"Não fizeram as contas direito. Todas
as loterias do governo juntas rendem hoje em torno de R$ 1
bilhão. O orçamento das universidades federais
está perto dos R$ 8 bilhões. Uma nova loteria
não teria arrecadação suficiente para
gerar um impacto significativo para as universidades. Não
existe solução mágica para o problema
do financiamento".
Criação de um ciclo básico de
dois anos antes de o aluno iniciar a formação
profissional
"Esse é o modelo americano. Se fosse
eu que o propusesse, iam querer me matar. Para funcionar,
é preciso fazer uma mudança administrativa profunda,
adotando uma estrutura de departamentos. O ingresso dos alunos
deveria ser geral e, só mais tarde, o estudante escolheria
a área profissional. Se essa parte inicial for muito
generalista, seria necessário ainda estender a duração
do curso. Nos Estados Unidos, onde existe o modelo, a especialização
profissional é feita em nível de pós-graduação."
Cotas para egressos da escola pública, negros
e índios
"Vejo um pouco de populismo na proposta de cotas.
Não é a solução, porque baixa
o nível das universidades federais, na medida em que
passam a ingressar pessoas não qualificadas. Uma universidade
não se faz com só com bons professores, mas
principalmente com bons alunos. O que precisa é qualificar
o Ensino Médio e, enquanto isso não acontece,
oferecer cursos pré-vestibulares gratuitos de alta
qualidade, para permitir o acesso à universidade."
Isenção integral de tributos para as
universidades, em troca de bolsas
"É um absurdo. A isenção
é nociva, porque dá margem a fraudes. Se é
para comprar vagas nas universidades privadas, então
que se comprem as vagas."
Eleições diretas para reitor
"Sempre fui contra, até quando fui eleito
reitor por eleição direta na Unicamp. A universidade
não pertence a quem se encontra nela momentaneamente.
Pertence ao povo. Quem tem de escolher é o governo,
que foi eleito. Quando fui ministro, os reitores eram melhores
porque eu escolhia os melhores, não só os mais
votados. A eleição direta exacerba o risco de
corporativismo."
Acabar com divisão das universidades em departamentos
"No Brasil se mistura muito faculdade com departamento,
o que cria uma situação esdrúxula de
duplicidade de comando."
As informações do jornal
Zero Hora.
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