O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, admitiu ontem que
a carga tributária em 2004 vai superar a de 2003, mas
ponderou que a elevação não se deve a
aumentos de tributos promovidos pelo governo. Segundo ele,
se deve, principalmente, ao fato de a indústria, sobre
a qual incide uma carga tributária maior, estar puxando
a recuperação do nível de atividade.
"Por causa do crescimento econômico e da cobrança
da Cofins (Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social) sobre as importações
deveremos ter uma carga tributária superior à
do ano passado", admitiu o ministro, depois da última
reunião do ano do Conselho de Desenvolvimento Econômico
e Social (CDES).
"Não houve aumento de impostos, mas de arrecadação.
No ano passado, como houve queda da produção
industrial e crescimento forte do agronegócio, a arrecadação
reagiu pouco porque o agronegócio comparativamente
paga menos impostos", argumentou.
Em seu discurso, Palocci ressaltou que, mesmo com juros altos
e carga tributária maior, o Brasil conseguiu este ano
entrar numa nova etapa de crescimento econômico consistente
que nada tem a ver com "vôos de galinha ou de curto
prazo".
Foi com esse discurso em defesa da política econômica
que Palocci se contrapôs às críticas de
empresários e trabalhadores e deu o tom da reunião.
"Ainda temos juros elevados, mas já foram maiores."
Palocci fez questão de ressaltar que o compromisso
do governo é reduzir a carga tributária, voltando
ao nível de 2003. Para que isso aconteça, a
equipe econômica compensará o excesso de arrecadação
com medidas que diminuirão os impostos sobre setores
estratégicos, como o de bens de capital.
Listando propostas adotadas nesse linha recentemente, o ministro
disse que, apesar de significarem uma perda de arrecadação
de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões, elas permitirão
um crescimento adicional do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro
de cerca de 1,5% ao ano nos próximos sete anos. "Com
isso, a perda de receita é rapidamente compensada por
um crescimento econômico maior." Entre as medidas
citadas por Palocci, estão o aumento no prazo para
recolhimento e a redução da alíquota
do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
"Estamos avaliando várias outras medidas, como
a redução da tributação sobre
a folha de pagamento." No entanto, essas discussões
deverão ficar para o ano que vem. "Este ano temos
de aprovar o que já mandamos para o Congresso. Foram
muitas medidas e, se não aprovarmos isso, não
conseguiremos nem avaliar o efeito delas na economia",
completou.
Para o ministro, o momento de crescimento do País é
o mais regular e consistente dos últimos dez anos.
Um estudo comparativo feito pelos técnicos da Fazenda
com as últimas três fases de recuperação
econômica na história brasileira comprova, ainda
segundo o ministro, que o crescimento no País puxa
os investimentos.
"Essa tem sido uma preocupação constante",
destacou Palocci. "Se conseguirmos perseverar no crescimento,
ele puxará mais investimentos, confirmando esse ciclo."
Para isso, ele defendeu como fundamental a manutenção
da estabilidade econômica, respeito aos contratos, abertura
da economia, redução da participação
de bens primários na pauta exportadora com mais produtos
com valor agregado, além de investimentos em educação
e desenvolvimento do mercado de crédito.
Ao comemorar a fase atual da economia, Palocci disse que não
há preocupação com a demanda e a inflação
não ameaça a manutenção desse
cenário de maior crescimento. "Inflação
é sempre uma preocupação, mas não
acho que seja ameaça", disse Palocci. "O
nosso crescimento tem pela frente desafios, mas não
ameaças."
SHEILA D'AMORIM
do jornal O Estado de S. Paulo
Colaborou: GUSTAVO FREIRE
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