Em reunião ontem para avaliar
o desempenho econômico da administração
de Luiz Inácio Lula da Silva, empresários pesos-pesados
do setor industrial contestaram a avaliação
do governo de que já teve início a retomada
do crescimento. Os sinais não teriam chegado ainda
"ao chão da fábrica", disse Paulo
Skaf, presidente da Abit (Associação Brasileira
da Indústria Têxtil e de Confecção).
Os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Guido Mantega
(Planejamento) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles,
insistiram em que a economia já voltou a crescer. Segundo
Mantega, a expansão do PIB (Produto Interno Bruto)
neste último trimestre alcançará 3% em
termos anualizados.
Entre as medidas que poderão ser tomadas no futuro
para estimular o crescimento, Palocci falou da proposta de
reduzir os tributos cobrados das empresas sobre a folha de
pagamento dos empregados. A medida aumentaria o número
de trabalhadores com carteira assinada.
A cúpula da equipe econômica participou de debate
com os membros do Conselho de Desenvolvimento Econômico
e Social. Apesar de os empresários estarem otimistas
com as perspectivas traçadas pelo governo, não
concordam que o ritmo da atividade econômica já
esteja mais forte.
"Achei boa [a apresentação do ministro
Palocci]. Na teoria está certa, na prática a
gente ainda não está sentindo isso [retomada
do crescimento]. Na ponta do varejo, do consumo e de produção
a gente não está ainda tão certo desse
crescimento, mas estamos apostando junto", disse Benjamin
Steinbruch, presidente da siderúrgica CSN.
Paulo Skaf comparou o comportamento dos empresários
ao do motorista que, diante do mau tempo, pára o carro
no acostamento. "Se o tempo melhorar, vamos ligar o motor,
sinalizar e, só depois, voltar à estrada",
disse.
As perspectivas apresentadas pelo governo foram bem mais modestas
do que as taxas de crescimento defendidas pelo Conselho (entre
5% e 7% ao ano),
Em 2004, o crescimento não terá "ritmo
alucinante", teria previsto Henrique Meirelles, segundo
relato do secretário-executivo do conselho, ministro
Tarso Genro. A expectativa oficial levada à reunião
é que a economia cresça entre 3% e 4% no ano
que vem.
Para Steinbruch, a meta do governo deveria ser "um pouco
mais audaciosa".
Segundo ele, um crescimento inferior a uma faixa entre 4%
e 5% não necessariamente vai reduzir o nível
do desemprego e melhorar a renda do trabalhador. As empresas
poderiam se basear no aumento da produtividade e da capacidade
ociosa para crescer sem ter de contratar mais pessoal.
O conselheiro Luís Fernandes, professor da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro), estranhou a falta de medidas concretas
no discurso da equipe econômica para estimular o financiamento
público do desenvolvimento. "É extremamente
preocupante que o governo mantenha o diagnóstico de
que a crise decorre da desorganização das finanças
públicas."
As informações são do jornal Folha de
S.Paulo.
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