O Ministério da Saúde
e o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância)
vão desencadear no ano que vem uma pesquisa com a finalidade
de dimensionar o impacto da Aids sobre direitos básicos
e a qualidade de vida de crianças e adolescentes nas
cinco regiões do país.
Serão pesquisados de 1.500 a 2.000 doentes entre 0
e 18 anos e a mesma quantidade de crianças e adolescentes
que, embora não estejam infectados, têm pais
contaminados. Segundo estimativa do ministério, cerca
de 7.000 pessoas de até 18 anos têm Aids no Brasil.
De autoria de um comitê científico integrado
por quatro consultores contratados pelo Unicef, o projeto
está em fase final de redação. Antes
de vir a ser aplicado, será submetido à Conep
(Comissão Nacional de Ética e Pesquisa), do
Ministério da Saúde.
A metodologia da pesquisa prevê a aplicação
de entrevistas com os pais -nos casos de crianças com
até 4 anos- e com as próprias crianças
e adolescentes das outras duas faixas etárias (de 5
a 11 e de 12 a 18 anos).
A informação é do médico Ivan
França Júnior, professor da Faculdade de Saúde
Pública da USP, membro do grupo responsável
pelo projeto, que ontem participou em Santos (SP) da 1ª
Conferência Órfãos da Aids.
Segundo França Júnior, serão considerados
pela pesquisa apenas crianças ou adolescentes que têm
conhecimento de que eles próprios ou os pais estão
com Aids e cuja família aceite falar sobre o assunto.
O trabalho buscará apurar se a doença está
gerando violação de um conjunto de direitos
previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente:
à saúde, à educação, à
convivência familiar e de não ser discriminado,
entre outros.
Devido ao caráter "heterodoxo" da metodologia
-que prevê inclusive o uso de atividades lúdicas
durante as entrevistas-, os pesquisadores passarão
por treinamento, segundo a psicóloga Elisabeth Franco,
da ONG GIV e integrante do comitê científico.
"Qualitativamente, vamos tentar avaliar o sentido que
a criança atribui ao problema da Aids", afirmou.
Os resultados servirão de base para o Ministério
da Saúde aferir se a rede de assistência às
crianças e adolescentes cujas vidas são diretamente
influenciadas pela Aids é adequada ou não, informou
o médico Draurio Barreira, chefe da Unidade de Epidemiologia
do Programa Nacional de Aids.
Fausto Siqueira,
da Agência Folha.
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