A reforma da Previdência
aprovada pelo Congresso começa a dar os seus primeiros
frutos no fim deste mês. Com o corte nos altos salários
de servidores estaduais, permitido pela implantação
do subteto já em vigor, os governadores dos 27 estados
economizarão este ano pelo menos R$ 330 milhões.
Uma consulta feita pelo GLOBO a secretarias de Administração
dos 27 estados mostra que, com os dados já disponíveis,
pelo menos 14.380 servidores terão salários
reduzidos. Isto incluindo apenas os funcionários do
Executivo.
A economia que os estados farão poderá ser
ainda maior quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir
qual o teto salarial para seus ministros, o que deve acontecer
no início de fevereiro. O valor servirá de base
para fixar o subteto dos desembargadores dos Tribunais de
Justiça, que limitará os ganhos dos servidores
do Judiciário. Nas Assembléias Legislativas
também haverá economia: os funcionários
não poderão ganhar mais que os deputados.
Nos últimos anos, estados como Acre, Rio de Janeiro
e Bahia implantaram tetos salariais estaduais. Mas essas decisões
dos governadores eram contestadas por sindicatos de servidores
na Justiça, tornando-as sem efeito prático.
Em 1999, por exemplo, o governador Jorge Viana (PT) instituiu
um teto de R$ 9 mil para os salários, que foi implantado
no Executivo e no Legislativo, mas não no Judiciário.
O governador Aécio Neves (PSDB) instituiu o subteto
em Minas Gerais em fevereiro de 2003, reduzindo os salários
do Executivo em 45% e o seu de R$ 19 mil para R$ 10.500.
"Na reforma da Previdência os governadores do
PSDB puseram o subteto no debate com o presidente. Acabamos
com os marajás ", diz Aécio.
Paraíba: subteto há três anos
No Legislativo e no Judiciário estão
os salários mais altos e as maiores distorções.
Na Paraíba, por exemplo, a aplicação
do teto no Judiciário e no Legislativo representará
uma redução de 11% ou R$ 2,976 milhões
por mês na folha de pagamentos. Esses recursos dizem
respeito apenas ao que 543 pessoas ganham acima de um provável
teto de R$ 15.523. No Executivo paraibano a aplicação
do teto promoverá uma economia de apenas R$ 645 mil
por mês, valor do excedente ao teto dos salários
de 435 funcionários
"Temos no governo do estado há três anos
um subteto que é o salário do secretário
estadual: R$ 9.502,50. Nos outros poderes não há
limite. Tem um desembargador que ganha R$ 24.033", lamenta
o secretário de Administração da Paraíba,
Misael Moraes.
Para ele, o Executivo já vem sendo pressionado pelo
controle dos altos salários há muito tempo:
"O salário de um professor com doutorado na universidade
federal aqui não dá R$ 4 mil brutos. Isso no
Tribunal de Justiça não é o salário
do chefe de gabinete de um desembargador".
A maioria dos governadores adotou a mesma interpretação
do Ministério da Previdência — de que o
subteto aprovado na reforma é auto-aplicável
— e já começou a reduzir suas folhas de
pagamentos. Em outros estados, como o Rio Grande do Sul e
o Pará, os governadores aguardam para saber como farão
para se adaptar às novas regras. O governador Germano
Rigotto (PMDB-RS), por exemplo, aguarda a aprovação
da PEC paralela da Previdência para se posicionar, pois
pretende adotar no estado teto salarial único para
os três poderes.
A proposta que ele estuda é fixar como salário
máximo o que ganham os desembargadores do Tribunal
de Justiça, R$ 15.500. O secretário de Administração
de Santa Catarina, Marcos Vieira, considera que, mesmo nesse
caso, seria prudente que o governo bloqueasse os salários
que devem ficar acima do subteto.
"O Ministério Público e os Tribunais de
Conta vão ficar em cima. Quem não fizer o bloqueio
poderá ter de aplicá-lo com efeito retroativo",
afirma Vieira.
No Ceará, primeiro estado que, na semana passada,
aprovou a reforma na sua Constituição para se
adaptar às novas regras previdenciárias, o maior
salário do funcionalismo era de R$ 39 mil, recebido
por um servidor da Secretaria de Fazenda.
O secretário de Administração do Ceará,
Mauro Benevides Filho, comemora a reforma, mas afirma que
os recursos que serão poupados não ficarão
nos cofres dos tesouros estaduais como sobra de caixa. Segundo
ele, a medida servirá mais para reduzir o crescente
buraco nas contas previdenciárias dos estados.
"No Ceará, em 2002, o servidor público
recolheu R$ 121 milhões e o estado teve que destinar
outros R$ 500 milhões para pagar as aposentadorias.
Em 2003, esse aporte foi ampliado para R$ 560 milhões
e, em 2004, sem a reforma, iria para R$ 630 milhões.
Com a reforma, ele crescerá para R$ 590 milhões",
explica.
Críticas
Para o ex-ministro da Previdência Reinhold
Stephanes, hoje secretário de Administração
do Paraná, o teto fixado com base no salário
de ministro do STF é muito alto para servir de padrão
para todo o país.
"Acho um erro vincular o Brasil às nove pessoas
mais importantes da Suprema Corte brasileira. Em nenhum país
se fez isso. Assim, a economia é menor e se torna vulnerável
o sistema, porque todos vão lutar para que os salários
do ministro do Supremo aumentem. Não se pode comparar
os funcionários comuns aos ministros do Supremo",
afirmou Stephanes.
Embora comande um estado que vai economizar pouco com a medida,
o governador capixaba, Paulo Hartung (PSB), a considera muito
importante por ser moralizadora.
"Não é uma grande economia, mas é
uma providência de Justiça. Esses altos salários
foram conseguidos por legislações que produziam
privilégios para pequenas castas e grupos. O conjunto
do funcionalismo não tem uma remuneração
alta e não faz nenhum sentido, se não há
como pagar um salário adequado aos servidores, permitir
que pequenos grupos tenham. Isso é uma aberração
que desmotiva o conjunto dos servidores", afirma o governador.
Apesar da economia que o subteto vai representar para os
estados, nem todos os servidores que recebem salários
elevados terão seus salários bloqueados de imediato.
A falta de comunicação entre os sistemas de
recursos humanos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário
não permitirá que o subteto seja aplicado aos
servidores que exercem dupla função, como um
médico do INSS ou um procurador que também sejam
professores de uma universidade pública.
As informações são
do jornal O Globo.
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