Um estudo
cruzando dados de escolaridade e renda do brasileiro confirma
o que a população já sentia na pele:
a classe média brasileira é cada vez menor e
está mais pobre. Quase 20% das pessoas com educação
de nível superior foram expulsas desta camada da renda
e não ganham mais do que R$ 500 por mês.
Outro dado surpreendente do estudo, divulgado pelo professor
Waldir Quadros, do Instituto de Economia da Unicamp, é
que a renda média das pessoas com nível superior
caiu 25% entre 1981 e 2002, recuando de R$ 2.921 para R$ 2.203.
"Desde a década de 30 não se via no país
uma crise tão prolongada. O pior é que não
vejo nada indicando que este quadro se reverterá. Enquanto
o país não voltar a crescer de forma consistente,
a classe média continuará empobrecendo",
afirma Quadros.
Segundo o professor, o grande vilão desta situação
é o desemprego, que provoca a perda de renda da população.
Por isso, a volta do crescimento da economia é tão
importante. No período da pesquisa, o crescimento econômico
médio foi de apenas 2% - taxa considerada pelo economista
absolutamente insuficiente para as necessidades do país.
A chamada classe média alta, com renda individual
acima de R$ 2.500, foi a que mais encolheu. Em 1981, representava
38,5% das pessoas ocupadas com curso universitário
(completo ou incompleto) e tinha um rendimento médio
mensal de R$ 5.684. Em 2002, essa parcela era de 24,7% e o
rendimento médio, de R$ 5.517.
"O acesso à classe média está mais
difícil. As famílias já não conseguem
fazer com que seus filhos pertençam à classe
média, mesmo que cursem universidade",observa
o professor.
A camada intermediária da classe média, aquela
que obtém renda entre R$ 1.250 e R$ 2.500, manteve
uma participação praticamente estável
no período. De 25,6% em 1981, foi para 25,2% em 2002.
Já a classe média baixa, com renda de R$ 500
a R$ 1.250, inflou 4,1 pontos percentuais. Em 1981, representava
25,2% da população de nível superior;
em 2002, era 29,3%.
Waldir Quadros admite que, na prática, hoje, um trabalhador
que ganha R$ 3 mil, por exemplo, não se sente pertencente
à classe média alta. Ele explica, contudo, que,
na pirâmide de renda do Brasil, esta pessoa figura no
topo.
Para realizar o estudo, o professor usou dados da Pesquisa
Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad), realizada
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e deflacionada pelo Índice Nacional de Preços
ao Consumidor (INPC). As informações de renda
tiveram como fonte a Receita Federal.
LARISSA MORAIS
do Jornal do Brasil
|