A corrupção
é considerada o segundo mais sério obstáculo
ao desenvolvimento empresarial no Brasil, atrás apenas
da alta carga tributária. A conclusão é
de uma pesquisa da organização não-governamental
Transparência Brasil e da Kroll, multinacional americana
de consultoria em gerenciamento de riscos, divulgada ontem,
sobre a corrupção vista por empresas. Na avaliação
do quanto as empresas que atuam no mesmo setor gastam no pagamento
de propinas, a maioria dos entrevistados (69%) apontou que
pagam até 3% do faturamento. Um quarto das empresas
estima que esse pagamento possa variar entre 5% e 10%.
Atos de desonestidade por parte de agentes públicos
são também relatados por 53% das empresas entrevistadas.
O principal favor proporcionado por fiscais tributários
corruptos, de acordo com 83% dos entrevistados, é relaxar
a fiscalização. Na questão sobre quais
tributos são mais vulneráveis, o ICMS foi apontado
por 78% das empresas, seguido por tributos trabalhistas e
do ISS. Até mesmo o IPTU, um imposto menos vulnerável,
recebeu 41% de indicações.
Sistema judicial
Entre as principais preocupações empresariais,
segundo a pesquisa, estão o sistema judicial inadequado,
a má distribuição de renda e os métodos
de coleta de impostos.
"O que mais chamou a atenção nessa pesquisa
com empresas foi a concentração de problemas
na área tributária", analisou o diretor
executivo da Transparência Brasil, Cláudio Weber
Abramo.
Para fazer a pesquisa “Fraude e corrupção
no Brasil: A perspectiva do setor privado — 2003”,
a Transparência Brasil e a Kroll ouviram, ano passado,
representantes de 94 empresas sobre fraudes, dos quais 78
também responderam as questões sobre corrupção.
Os questionários foram respondidos por funcionários
de alto escalão (34%), como presidente ou diretores,
outros (40%) como advogados, auditores e analistas, e de médio
escalão (26%). Entre as empresas que responderam, 54%
têm mais de 500 funcionários, 72% têm capital
fechado, 44% são indústrias, 33% prestadoras
de serviços e 52% são nacionais. Das 94, 64
estão em São Paulo, 12 no Rio, nove no Paraná,
cinco em Minas Gerais e as outras em Santa Catarina, no Espírito
Santo, em Goiás e no Rio Grande do Sul.
Na questão que perguntava se a empresa já se
sentiu compelida a contribuir com campanhas eleitorais, 26%
disseram que sim. Esse número contrasta com a mesma
pesquisa realizada em 2002, quando 70% das empresas afirmaram
ter recebido pedidos para contribuir com campanhas.
ADAURI ANTUNES BARBOSA
do Jornal O Globo
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