Foi das
próprias favelas, onde moravam pelo menos dois terços
dos cerca de 180 mil habitantes de Diadema nos anos 80, que
surgiram as soluções hoje aplicadas em 207 núcleos
habitacionais da cidade. Atualmente cerca de 110 mil habitantes
moram nas antigas favelas, transformadas depois da intervenção
urbanística da prefeitura.
Eleito com o compromisso de enfrentar a situação,
o ex-prefeito Gilson Menezes, que cumpriu seu primeiro mandado
de 1983 a 1986, lembra os primeiros passos:
"Nós tivemos que esperar, de 1 de fevereiro,
que foi a minha posse, até 15 de março, que
foi a posse do governador Franco Montoro, para pedir a ele
que levasse água e luz para as favelas. Ele ouviu e
ficou entusiasmado com o nosso projeto. Em dois, três
meses a gente já tinha começado a urbanização
das favelas".
Lotes padrão
As reivindicações de água e luz, que
tinham que ser atendidas pela Sabesp e pela Eletropaulo, empresas
estaduais do setor de água e luz, respectivamente,
segundo Gilson Menezes, foram de fácil solução.
O principal problema era o excesso de gente que morava nos
barracos, todos amontoados, desorganizados. A intervenção
urbana começava pelo parcelamento de lotes, redividindo
o espaço da favela para que as moradias tivessem um
tamanho mínimo.
"Hoje nós temos um lote padrão de 50 metros
quadrados. Antes havia lotes de 15, 32, 40 metros quadrados.
É com essa repartição que podemos abrir
o sistema viário, fazer as obras do saneamento básico",
conta o secretário Josemundo Dario Queiroz.
Transformar a favela em núcleo habitacional, na concepção
do programa de urbanização de favelas da prefeitura,
significa ter ruas, vielas e travessas, CEP e numeração
lógica nas casas.
Bairro
Nova Conquista, a maior favela que Diadema já
teve, hoje está praticamente toda urbanizada. São
3,5 mil famílias, cerca de 14 mil pessoas, que chegaram
a viver debaixo de barracos de lona preta e hoje vivem em
um bairro com toda infra-estrutura.
" Isso aqui está muito bom. Este lugar é
ótimo, a gente nem lembra mais do tempo que dormia
debaixo de barraca de lona", conta Antonio Ostênio,
ao lado da mulher, Maria Helena dos Santos. O casal mora no
local há 13 anos.
Um trecho da Nova Conquista, que antes era o estacionamento
de uma indústria, passa pelo processo de parcelamento
dos lotes. O casal Cleber Oliveira e Cleide Ferreira Leite,
que está há seis anos no local, desde a ocupação,
está empenhado em arrumar o novo barraco.
" Por enquanto estamos dando um jeito, pintando as telhas,
até poder construir. Quero construir o mais rápido
possível", diz Cleide, com o apoio de Cleber.
ADAURI ANTUNES BARBOSA
do jornal O Globo
|