O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem a líderes
de partidos aliados que a decisão de cancelar o visto
do correspondente Larry Rohter, do jornal "The New York
Times", teve o objetivo de servir de "exemplo"
para outros jornalistas estrangeiros.
Ao comentar o teor da reportagem assinada por Rohter no último
domingo -que tratou dos supostos excessos alcoólicos
do presidente-, afirmou, segundo relato de participantes do
encontro: "Não fui eleito para santo".
O presidente insinuou ainda que a reportagem pode estar relacionada
a insatisfações com a política externa
do país, ao declarar que "as pessoas pensaram
que o Brasil ficaria submisso diante da geografia comercial
vigente".
Realizado no Palácio do Planalto, o café da
manhã reuniu 13 líderes de partidos aliados
e vice-líderes do governo na Câmara, além
do ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política).
A pauta oficial era a discussão de projetos de interesse
do governo no Congresso.
O caso "NYT" surgiu quando o deputado Vicente Cascione
(PTB) manifestou apoio à decisão de cancelar
o visto do jornalista, o que o obriga a deixar o país
em oito dias depois de ser notificado.
A resolução, que gerou ampla repercussão
negativa, dividiu o governo. Enquanto o porta-voz André
Singer e os ministros Luiz Gushiken (Comunicação)
e José Dirceu (Casa Civil) a apoiaram, o assessor de
imprensa Ricardo Kotscho e Antonio Palocci (Fazenda) foram
contra.
Segundo deputados, Lula disse que as fontes usadas na reportagem
-entre elas o ex-governador Leonel Brizola- "não
chegaram nem a 300 km de distância" dele.
Lula afirmou ter contado "até dez" antes
de tomar a decisão, que não tem volta e que,
se for pedido novamente, o visto será negado.
À tarde, o porta-voz confirmou que o presidente não
voltará atrás da decisão. "O governo
brasileiro não vai retroceder nessa questão.
Temos razões sólidas, fundamentadas e refletidas.
É nossa responsabilidade defender o Brasil, as instituições
brasileiras e a figura do presidente da República.
Não há motivo para retroceder."
Singer disse que a opinião pública irá
compreender que o governo precisava reagir à altura
das ofensas. Sobre a posição dos EUA, que protestaram
contra a medida (leia à página A5), afirmou
que esse episódio não tem relação
com a liberdade de imprensa, e sim com a responsabilidade
na divulgação de notícias de repercussão
internacional. Segundo ele, o governo tem um "compromisso
férreo" com a liberdade de imprensa.
Na reunião com os parlamentares, Lula disse que o "NYT"
pode enviar ao país "50 ou cem pessoas, o que
não pode é atacar a instituição
da Presidência". "Se não tomasse nenhuma
medida, qualquer outro jornalista de qualquer país
poderia fazer o mesmo sem preocupação com as
conseqüências. Esse caso serviu de exemplo",
disse. "Foi uma agressão ao Brasil, não
à minha pessoa."
Para Lula, a atitude de Rohter foi muito mais grave do que
a do piloto da American Airlines Dale Hobi Hersh, expulso
em janeiro após ter feito um gesto obsceno à
Polícia Federal ao entrar no país.
Segundo o presidente, qualquer país do mundo tomaria
atitude semelhante e que o jornalista nunca o teria visto
bebendo nem mesmo guaraná. Afirmou não beber
mais do que a média dos brasileiros e avaliou que nunca
deu motivos para insinuações de que tem problemas
com o álcool.
As informações são
da Folha de S. Paulo, sucursal de Brasília.
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