O americano
William Larry Rohter Junior, 54, conhece o Brasil há
27 anos. Ele chegou ao país pela primeira vez em 1977,
durante a ditadura militar. Segundo contou em uma reportagem
para o caderno de turismo do "New York Times", publicada
em 2002, o Rio de Janeiro foi o primeiro lugar em que esteve
fora de seu país.
Ontem, o escritório do "NYT" no Rio, onde
Rohter trabalha, informou que o correspondente pediu "isolamento".
Ele deixou a orientação de que seu endereço
nem seu telefone sejam divulgados. A direção
do jornal determinou que sua equipe no Brasil não comente
a decisão do governo de cancelar o visto do jornalista.
Nos últimos dias, o correspondente esteve em Buenos
Aires fazendo entrevistas, mas ontem não foi ao apartamento
onde trabalha e se hospeda na capital argentina. Sua secretária
na cidade disse que ele estava no país, mas que não
o via havia dois dias. No fim da tarde, porém, o porteiro
do edifício onde ele fica afirmou que o viu deixar
o prédio anteontem, às 5h, com duas malas grandes.
O jornalista chegou ao Brasil nos anos 70 como correspondente
da revista americana "Newsweek". Foi nessa época
que ele conheceu a carioca Clotilde, com quem teve dois filhos.
De acordo com pessoas que o conhecem, as crianças nasceram
nos EUA e moram lá atualmente, em Miami, com a mãe.
Rohter trabalha há cinco anos no Rio para o "NYT".
Sua saída do país estava programada para fevereiro
último, mas foi prorrogada, a pedido da empresa, para
o fim deste ano. No ano passado, Rohter recebeu o prêmio
de imprensa Embratel, no valor de R$ 8.000, na categoria correspondente
internacional, pela reportagem "Amazônia ainda
queima, apesar das promessas".
No texto que escreveu para o caderno de turismo do "New
York Times", Rohter contou que mora em São Conrado
(zona sul), mas que primeiro morou na Vila Isabel, na zona
norte do Rio. A reportagem fala de "duas cidades separadas
por um túnel": as zonas norte e sul. No mesmo
texto, Rohter dá dicas de bares na cidade para se "tomar
drinques em dias quentes".
O outro correspondente do "NYT" no Brasil, Todd
Benson, que mora em São Paulo, disse ter sido proibido
pela direção da empresa de comentar a decisão
do governo brasileiro e a reportagem que gerou a polêmica,
sob pena de demissão. A mesma orientação
foi recebida por funcionários do escritório
no Rio.
"Em outros momentos, eu teria isso na ponta da língua,
mas agora não é o caso. Não posso falar,
não dá", afirmou Mery Galanternick, jornalista
brasileira que trabalha para o "New York Times"
no Brasil. "Ele conhece profundamente e gosta muito do
país", disse ela, apenas.
Além de escrever sobre a política brasileira,
Rohter é responsável pela cobertura da Argentina
e do Chile, para onde viajava freqüentemente. O jornal
espanhol "El Pais" o define como chefe do "NYT"
no Cone Sul.
Em 2002, ele publicou outra matéria de repercussão,
afirmando que o ex-presidente argentino Carlos Menem havia
recebido suborno de US$ 10 milhões para encobrir uma
suposta vinculação do governo do Irã
com o atentado em Buenos Aires contra a Amia (Associação
Mutual Israelita Argentina), em 1994.
VINICIUS QUEIRÓZ GALVÃO
da Folha de S. Paulo, sucursal do Rio
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