O Centro
de Vigilância Sanitária (CVS) de São Paulo
proibiu o uso da película de plástico que embala
os garrafões de 20 litros de água mineral. O
plástico serve para evitar que o garrafão fique
sujo, mas acaba servindo como eventual veículo para
bactérias.
Os contaminantes chegam ao bebedouro quando o plástico
é mergulhado na água, por descuido do consumidor.
Outra forma de contaminação ocorre quando pequenas
quantidades de água ficam retidas entre o plástico
e o garrafão, onde desenvolvem-se colônias de
bactérias. A água escorre para o bebedouro,
e as colônias crescem dentro dele.
A proibição, válida em todo o Estado,
tem como base um estudo técnico dos próprios
fabricantes, que apontou pelo menos 15 casos de contaminação
de bebedouros por bactérias e fungos, entre maio e
dezembro do ano passado, somente na cidade de São Paulo.
O estudo também considerou inadequada a composição
do plástico, com tintas, no caso dos coloridos, e solventes.
Há no Estado, que consome 2 bilhões de litros
de água mineral ao ano -40% do total do país-,
cerca de 40 milhões de garrafões retornáveis
em uso, segundo estimativa da Abinam (Associação
Brasileira da Indústria de Águas Minerais).
Os galões representam 90% de toda a água mineral
comercializada no Brasil.
Os testes da Abinam, que ampararam o relatório técnico,
detectaram nos plásticos e bebedouros amostras da bactéria
pseudomonas, cujo gênero aeruginosa está associado
a casos de infecção hospitalar -principalmente
em pessoas com ferimentos ou queimaduras e sistema imunológico
debilitado-, incluindo ocorrências de mortes.
A indústria e os distribuidores têm 30 dias,
a partir de ontem, para retirar das lojas e engarrafadoras
todos os garrafões com plásticos. Depois desse
prazo, os órgãos de vigilância sanitária
terão de recolher os que não respeitarem a nova
norma.
"Apuramos que existe risco em razão do manuseio
inadequado dos garrafões pelo consumidor", disse
Silvia Negrão, diretora técnica da Divisão
de Produtos Relacionados à Saúde do CVS. "Não
há segurança, e o plástico é o
condutor do risco."
A película também pode dificultar que o consumidor
visualize as condições da água que está
comprando.
A farmacêutica Petra Sanchez, assessora científica
da Abinam, disse que os fabricantes ligados à associação
já estão orientados a retirar o plástico
dos garrafões. "Estamos aumentando o rigor",
declarou Sanchez, responsável pelo estudo que descobriu
a origem da contaminação.
Segundo ela, que é professora de microbiologia ambiental
da Universidade Presbiteriana Mackenzie, embora pequenas,
as concentrações de microorganismos encontrados
apontaram para o risco de consumir a água. "Esse
plástico não é usado em nenhuma parte
do mundo. É uma invenção brasileira,
e errada", afirmou.
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
da Folha de S. Paulo
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detectou garrafões de água contaminados em 2002
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