LONDRES.
Numa contundente reportagem de duas páginas, o jornal
“The Independent”, um dos principais da Grã-Bretanha,
classificou ontem o Rio como a cidade da cocaína e
da carnificina. Usando como pano de fundo o assassinato do
traficante Escadinha, no mês passado, o jornal apresenta
ao público britânico e europeu um panorama sombrio
da guerra das autoridades cariocas contra o tráfico,
exibindo estatísticas de assassinatos para mostrar
que há um crescimento da violência.
O jornal compara a violência carioca à encontrada
em áreas de conflito como a Chechênia, o Sudão
e a Faixa de Gaza, acentuando que nesta última o confronto
entre palestinos e israelenses matou menos do que no Rio entre
1987 e 2001.
Em nota oficial, a Secretaria estadual de Segurança
Pública afirmou ontem que tem enfrentado frontalmente
o tráfico e que, em levantamento do Ministério
da Justiça divulgado em 2003, com base em dados de
2002, coloca o Rio em sétimo lugar no país em
número de homicídios dolosos. O secretário
de Segurança Anthony Garotinho está licenciado
para acompanhar a campanha do PMDB no interior do estado.
Na reportagem, o jornal inglês diz que o Rio tem o
maior índice de mortes por armas de fogo no Brasil
e relembra que os assassinatos ocorridos no país entre
1980 e 2000 superam as mortes em quase 27 anos de guerra civil
em Angola. O “Independent”, com referências
ao filme “Cidade de Deus”, afirma ainda que “os
moradores das favelas apóiam os traficantes por medo
ou por afinidade, já que o poder público não
demonstra poder de reação”.
O “Independent” diz ainda que o Rio é
uma cidade sem futuro para milhares de adolescentes envolvidos
com o tráfico. A reportagem é apenas mais uma
das críticas sobre a violência no Brasil da mídia
britânica nos últimos meses.
Numa delas, o “Financial Times”, criticou a Prefeitura
e o estado por causa da idéia de se fazer um muro em
torno da Rocinha. Há duas semanas, o jornal classificou
o Rio como uma das cidades mais perigosas do mundo para o
trabalho dos jornalistas, relembrando, conforme mostrou Ancelmo
Góis em sua coluna de anteontem, o assassinato de Tim
Lopes. Em maio, uma reportagem do Canal 4 sobre o conflito
da Rocinha apontou a ineficiência das autoridades e
exibiu entrevista com um suposto soldado do tráfico
ligado ao bandido Dudu, que tripudiou sobre o possível
uso das forças armadas na favela.
FERNANDO DUARTE
do jornal O Globo
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