Um em
cada quatro brasileiros que se formaram no ensino superior
de 1992 a 2002 não está empregado. No país
onde ter diploma de nível superior já foi garantia
de emprego fácil, um estudo da Secretaria do Desenvolvimento,
Trabalho e Solidariedade do município de São
Paulo mostra que passar pelo estreito funil do vestibular
já não é mais a maior dificuldade do
jovem.
Dados do MEC (Ministério da Educação)
mostram que, na década de 90, esse funil foi alargado
com a expansão do ensino superior, principalmente privado,
no país. No entanto, o crescimento da economia no período
não foi suficiente para gerar emprego para os milhares
de recém-formados que chegaram ao mercado.
Para chegar a essa conclusão, o secretário
municipal do Trabalho de São Paulo, Marcio Pochmann,
pesquisou, a partir da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios) do IBGE, a situação dos
3,3 milhões de brasileiros que se formaram no ensino
superior de 1992 a 2002.
Desse total, 2,5 milhões estão empregados (74%),
mas 123 mil (4%) estavam procurando emprego em 2002, e 738
mil (22%) estavam fora do mercado de trabalho (não
haviam procurado emprego no período da pesquisa, mas
não estavam ocupados).
Outra tabulação feita no estudo mostra que
uma parcela significativa dos brasileiros com diploma trabalha
em atividades abaixo de sua qualificação (8%
dos ocupados com nível superior).
São pessoas que, apesar do diploma, acabaram empregadas
como açougueiros e empregadores na indústria
alimentícia (19,1%); droguistas, floristas, galinheiros,
lenheiros, peixeiros e sorveteiros (17,8%); ou atendentes
(12,6%).
Fora da área
É o caso de Gustavo Pinho, 23, que se formou neste
ano em publicidade e não conseguiu emprego em sua área.
A solução foi aproveitar uma vaga de agente
de vendas no balcão de uma companhia aérea no
aeroporto internacional do Rio. "Se uma vaga interna
para o setor de marketing for aberta e eu estiver dentro da
empresa, talvez tenha uma vantagem maior na disputa pelo fato
de as pessoas me conhecerem", diz.
Para o autor do estudo, situações como a enfrentada
por Pinho revelam um paradoxo brasileiro. "Somos um país
de baixa escolaridade média, mas estamos formando uma
mão-de-obra qualificada que não consegue entrar
no mercado de trabalho", afirma.
Para o secretário, a explicação é
o baixo crescimento da economia e dos setores que tradicionalmente
absorvem essa mão-de-obra. "O país tem
crescido em parte graças ao setor agrícola e
de extração mineral. É importante que
esse crescimento continue, mas ele demanda poucos empregos."
Para o sociólogo Simon Schwartzmann, presidente do
Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade e ex-presidente
do IBGE, a situação pode ser explicada também
"pelo rápido crescimento do ensino superior, que
tem uma lógica que não é a mesma do mercado
de trabalho".
Para o economista e ex-ministro da Educação
Paulo Renato Souza, a expansão do ensino não
foi em vão: "Mesmo que não estejam empregados
na área para qual se formaram, vão acabar executando
o trabalho de uma forma melhor se tiverem um diploma de nível
superior. É preciso entender a educação
como um valor em si".
ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo, sucursal do Rio
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