A pesquisa
da Jones Lang LaSalle coletou dados de 19 cidades e os analisou
com base em três cenários para comparar o potencial
de cada cidade: um relacionado ao custo, outro à mão-de-obra
e um terceiro levando em conta o tamanho do mercado.
São Paulo ficou em segundo lugar, atrás apenas
de Manila, nas Filipinas, no segundo cenário, relacionado
à mão-de-obra.
"Foi uma surpresa para nós vermos São
Paulo com um desempenho tão positivo porque, normalmente,
os países mais populares para a terceirização,
como sabemos, são a China, a Índia e as Filipinas
por razões muito ligadas ao fator custo", disse
Jeremy Kelly, um dos autores do estudo.
De acordo com Kelly, São Paulo e mesmo outras cidades
brasileiras como Curitiba e Porto Alegre oferecem uma mistura
mais ampla de fatores vantajosos, apesar de o ponto forte
ser a mão-de-obra disponível.
"Essas cidades satisfazem os três requerimentos
chave: primeiro, custo baixo em termos de força de
trabalho, serviços básicos, telecomunicações
e ofertas no setor imobiliário. Segundo, oferecem uma
força de trabalho relativamente bem educada e, terceiro,
têm um mercado interno crescente", afirma Kelly.
Qualidade de vida
O vice-presidente da Câmara de Comércio
Brasil-Estados Unidos em Washington, Mark Smith, diz também
que a qualidade de vida no Brasil já foi citada como
um fator decisivo por uma empresa buscando um outro destino
para terceirização.
"Eles tinham que escolher entre Bangalore, na Índia,
e São Paulo, e afirmaram que a boa qualidade de vida
em São Paulo era um fator importante", afirma.
Smith concorda que a qualidade da formação
de mão-de-obra no Brasil é relativamente superior
à existente em outros países em desenvolvimento
e cita como exemplo a existência de uma mão-de-obra
qualificada na área de engenharia eletrônica.
Mesmo assim, ele diz que o Brasil "não pode ficar
parado".
"Para que esse setor (de terceirização
externa) cresça, é preciso um investimento por
parte do governo brasileiro, de governos municipais e estaduais
no ensino. É um desafio para o futuro criar mais condições
para que novos conhecimentos técnicos sejam adquiridos",
afirma.
Segundo o estudo realizado pela Jones Lang LaSalle, fatores
ligados à questão financeira também podem
ser um especilho como os impostos altos e a falta de confiança
nas leis de propriedade intelectual como problemas.
A pesquisa indica que outras cidades da América Latina,
como a Cidade do México e Buenos Aires, também
apresentam um cenário positivo em relação
à oferta de trabalhadores e qualidade da mão-de-obra.
Esse tipo de perfil pode atrair empresas que estejam interessadas
em terceirizar externamente serviços como resolução
de disputas e finanças corporativas.
Redução de custos
O setor de terceirização externa de
trabalhos deve crescer nos próximos anos, com 75% das
principais empresas de serviços financeiros possivelmente
terceirizando serviços em outros países até
2006.
Ainda que especialistas identifiquem uma mudança de
atitude em relação à terceirização
externa, com determinadas empresas buscando a alternativa
como uma estratégia de mercado, a redução
de custos continua sendo o principal fator que leva à
terceirização.
É o caso da empresa Cinemaware, uma companhia americana
de desenvolvimento de video games com sede na Califórnia.
No ano passado, depois de produzir o jogo Robin Hood, Defender
of The Crown nos Estados Unidos, o dono da empresa, o empresário
brasileiro Lars Batista, decidiu transferir a sua produção
do Vale do Silício para a Espanha.
"Aqui nos Estados Unidos, a mão-de-obra estava
muito cara. Na Espanha, os custos eram mais baixos",
explicou Batista, que contratou uma empresa de Madri para
a produção do jogo High Rollers Casino.
Ainda assim, Batista explica que a tendência é
que os custos de produção dos jogos fiquem cada
vez mais altos. "O crescimento nas vendas não
acompanha o aumento dos custos. Então, não tem
jeito, é preciso encontrar uma solução
para se manter no mercado", disse.
A solução para garantir os lucros da empresa
foi transferir a produção para o Brasil. Não
para São Paulo, mas para o Rio de Janeiro. A expectativa
do empresário é de cortar os curtos em até
50%.
"Não há diferença entre São
Paulo e Rio de Janeiro nessa área de tecnologia da
informação. O importante é que o Brasil
tem uma mão-de-obra qualificada e mais barata do que
os Estados Unidos e a Europa. Esse primeiro projeto será
produzido no Rio, mas outros podem ser feitos em São
Paulo", disse.
MÁRCIA FREITAS
do BBC Brasil
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