O presidente
do Tribunal de Justiça, desembargador Miguel Pachá,
disse que os pais que levam os filhos para visitar instituições
de menores infratores, a fim de ensiná-los a não
cometer crimes, estão coagindo os adolescentes. Na
opinião de Pachá, ameaçar não
educa. O presidente do TJ disse ainda, anteontem, que a internação
não vai resolver os problemas dos menores, pois, sem
acompanhamento psicológico, as instituições
se transformam em escola de crimes.
" O importante seria internar para recuperar e não
internar por internar, sem dar condições psicológicas
ao menor e à sua família. É o mesmo que
fazer uma escola de crimes. Será que essas instituições
estão preparadas para recuperar esses jovens?",
perguntou.
No último domingo, uma reportagem do GLOBO revelou
que famílias de classe média estão levando
os filhos para visitar abrigos com o objetivo de mostrar a
rígida disciplina a que o menor infrator é submetido.
O presidente do TJ acredita que a solução seria
os pais imporem limites e ensinarem valores aos filhos. Segundo
Pachá, psicólogos devem avaliar a importância
desse tipo de visita.
"Os pais precisam dar atenção aos filhos.
O abandono não é só de quem não
tem pais. O TJ até vem tendo uma posição
bastante dura nos processos que envolvem menores, mas o Superior
Tribunal de Justiça tem concedido, com freqüência,
hábeas-corpus nesses casos", disse.
O diretor de Tratamento do Projeto de Justiça Terapêutica,
psiquiatra Jairo Werner, acredita que a prática de
levar o filho para visitar instituições, assim
como clínicas para dependentes químicos, não
ajuda.
" Existem mecanismos de defesa do adolescente, do tipo
negação e minimização, que o fazem
pensar: “Comigo não vai acontecer” ou “
Isso é para pobre bandido”. Os adolescentes pensam
que, no final, papai vai dar um jeitinho para ele não
ficar internado", disse ele.
Para o caso de dependentes químicos, o psiquiatra
sugere a Justiça Terapêutica:
"Nos casos em que existe risco real de processo e de
internação, a visita a essas instituições
pode contribuir para o adolescente optar por tratamento sócio-familiar
e psicológico. E, no caso de ser também usuário
de drogas, ele poderá optar por participar de programas
voltados para esse tipo de problema".
O psiquiatra disse ainda que os pais que costumam ser tolerantes
com as faltas dos filhos estão provocando o próprio
mal deles:
"Às vezes, o pai só vai acordar quando
a polícia bate na sua porta".
O consultor em dependência química Wanderley
Belchior acha que as instituições para menores
infratores não estão preparadas para tratar
o menor que usa drogas.
"Quem cuida desses menores tem que fazer com que a recuperação
seja atraente. Na cabeça do adolescente, o glamour
das drogas é muito forte", disse Wanderley.
Na sua opinião, a metodologia das unidades do estado
para menores é arcaica.
" Se o jovem gosta de escalada e rock, o tratamento tem
que oferecer essas opções de lazer. É
preciso motivá-lo. Essa garotada está pedindo
ajuda. Não dá para atrair o jovem de classe
média com um curso para fazer vassouras", afirmou
o consultor.
VERA ARAÚJO
do jornal O Globo
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