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Entre
as 13 maiores capitais do país, a cidade gaúcha
lidera em aumento de assassinatos; somente em 2007 foram 430
Sucateamento da segurança,
aumento do tráfico de drogas e da pobreza são
apontados como as principais causas
Das 13 maiores capitais brasileiras,
Porto Alegre é a que teve o maior crescimento da taxa de homicídios
em 2007, conforme estatísticas das secretarias estaduais
da Segurança Pública.
O número de mortes por agressão aumentou quase
60% em relação a 2006 e se tornou recorde da
década na capital gaúcha. No ano passado, houve
430 homicídios na cidade, contra 273 em 2006 -aumento
de 57,5%, segundo dados da Secretaria da Segurança
Pública do Rio Grande do Sul.
As estatísticas da Delegacia de Homicídios de
Porto Alegre, que atualiza os números a partir de suas
investigações, revelam, no entanto, dados absolutos
mais preocupantes: 525 homicídios contra 337 no ano
anterior -crescimento de 55,7%.
A Folha comparou estatísticas criminais das 13 maiores
capitais a partir de dados fornecidos pelos Estados. O resultado
mostrou que Porto Alegre lidera, com grande vantagem, o aumento
percentual de homicídios de um ano para outro. Salvador
ocupa o segundo lugar, com crescimento de 38,26% -foram 1.337
em 2007, contra 967 no ano anterior.
Os Estados não seguem uma metodologia padrão
para calcular as estatísticas. Porto Alegre, por exemplo,
inclui os homicídios culposos (sem intenção),
com exceção das mortes no trânsito, no
número de homicídios. Já a maioria das
capitais relaciona apenas os homicídios dolosos (quando
há intenção de matar).
Crise nas contas
O número recorde em Porto Alegre ocorre no momento
em que o Estado vive uma crise financeira, com fortes cortes
em investimentos. Cerca de metade dos homicídios no
Estado ocorrem na capital.
O sucateamento do sistema de segurança, o acirramento
da rivalidade entre as polícias Civil e Militar, o
aumento do tráfico de drogas e de bolsões de
pobreza são apontados como as principais causas para
a estatística desfavorável.
"Existe uma guerra entre os traficantes", resumiu
Juliano Ferreira, titular da Delegacia de Homicídios
da capital gaúcha. Ele afirmou, contudo, que essa não
é a única causa. "Existe um abandono dos
serviços públicos na periferia."
O orçamento da segurança no Estado para 2008
é de R$ 410 milhões - o de São Paulo,
por exemplo, cuja capital teve a maior queda, de 22%, supera
R$ 8 bilhões. O efetivo de 33 mil PMs, por exemplo,
precisaria de reforço de pelo menos mais 11 mil, avalia
o secretário estadual da Segurança Pública,
José Francisco Mallmann.
Ele cita que boa parte das vítimas dos assassinos em
Porto Alegre no ano passado já tinha antecedentes criminais.
Para o professor Rodrigo Azevedo, do curso de pós-graduação
em ciências criminais da PUC (Pontifícia Universidade
Católica) do RS, esse argumento é "inaceitável".
"Isso não justifica a falta de ação
dos órgãos de segurança", afirmou.
Azevedo diz que "a velha rivalidade entre policiais civis
e militares, o aumento da miséria e o avanço
do tráfico talvez possam explicar essa crise".
O governo nega rivalidade entre as duas polícias.
Gilmar Penteado
Folha de S.Paulo
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