Representantes do governo dos EUA fizeram ontem críticas às políticas
econômica e comercial do Brasil. O subsecretário
do Tesouro norte-americano, John Taylor, afirmou em Washington
que o governo do PT ainda "não mostrou resultados"
em relação às expectativas de crescimento
do Brasil e que o país ainda "tem muito trabalho
pela frente".
"A política econômica do Brasil está
focada apenas no controle de gastos. O que o país precisa
é de outras medidas que façam a economia crescer,
com empregos e de forma sustentada", afirmou.
Na seqüência, seu colega Christopher Padilla,
representante do Departamento de Comércio norte-americano,
afirmou que o Brasil deve considerar "direitos e obrigações"
nas negociações da Alca (Área de Livre
Comércio das Américas). Segundo ele, o país
só será beneficiado pelos Estados Unidos no
bloco se "aceitar um comprometimento maior de responsabilidades".
As cobranças dos dois funcionários do governo
norte-americano foram feitas diante de uma platéia
de cerca de 70 empresários norte-americanos e brasileiros
durante almoço na Câmara de Comércio dos
EUA.
Do lado americano, participaram empresas como a General Motors
e Kodak. Do brasileiro, companhias como a OAS, Embraer e consultorias.
"Os senhores presentes deveriam ajudar a evitar posições
ideológicas [em relação à Alca]
que nada têm a ver com o dia-a-dia próprio do
mundo dos negócios", disse aos empresários
o representante do Departamento de Comércio dos EUA.
Primeiro estágio
Mas foi o subsecretário do Tesouro quem fez as críticas
mais pontuais à política econômica brasileira.
Taylor afirmou que o Brasil conseguiu até agora implementar
"apenas o primeiro estágio" das políticas
necessárias.
"As medidas para acabar com o sobe-e-desce das expectativas
tiveram um efeito dramático, a inflação
foi controlada e os juros baixaram. Mas ainda não vimos
o segundo estágio. Não vimos o crescimento,
que poderia ser muito maior do que vem sendo previsto",
disse Taylor.
"O potencial brasileiro, em termos de produtividade
e desenvolvimento, é imenso. Mas é preciso muito
trabalho para conquistar isso."
Regulamentação
O subsecretário do Tesouro dos EUA reclamou de "problemas
na área de regulamentação" no Brasil
e afirmou que um dos principais obstáculos no país
é a falta de acesso a crédito por parte de pequenas
e médias empresas.
Taylor faz parte do chamado "Grupo para o crescimento"
formado entre Brasil e EUA após a visita do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva à Casa Branca, em
junho passado.
Defesa
Presente ao mesmo evento, o representante do Brasil no Banco
Mundial e ex-secretário de Assuntos Internacionais
do Ministério da Fazenda, Otaviano Canuto, defendeu
as políticas brasileiras e disse que o país
espera um crescimento de até 4% neste ano.
Canuto reconheceu, no entanto, que os números da produção
industrial brasileira não mostraram, até agora,
recuperação.
"As políticas vêm dando certo, e há
uma série de outros indicadores que mostram uma retomada.
E ela será forte. O Brasil vai bem, e não é
apenas pelo resultado de um cenário internacional melhor",
afirmou Canuto.
FERNANDO CANZIAN
da Folha de S. Paulo, em Washington
|