O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva sancionou o Orçamento de 2004 sem vetos,
mas, apesar de ter previsto para este ano a retomada do crescimento,
assinou um decreto que impõe um limite de 6% para os
gastos com custeio e investimentos em janeiro.
O ministro Guido Mantega (Planejamento) tem dito que o governo
não pretende fazer cortes no Orçamento deste
ano. O decreto publicado ontem, porém, tem o objetivo
de dar mais tempo ao governo para analisar as receitas e despesas
e verificar se elas são compatíveis com a necessidade
de economizar R$ 41,8 bilhões.
Esse montante representa o superávit primário
(economia de receita de impostos para pagamento de juros)
acordado com o FMI (Fundo Monetário Internacional)
no ano passado.
Ou seja, o governo ainda vai analisar se é ou não
preciso estabelecer um corte de gastos para o ano. A Folha
apurou com técnicos do Ministério da Fazenda
e do Ministério do Planejamento que haverá uma
revisão das receitas contidas no texto orçamentário,
o primeiro elaborado integralmente pelo governo Lula.
Pela lei, o governo tem 30 dias após a publicação
do Orçamento no "Diário Oficial" da
União para editar um novo decreto que estabelecerá
o cronograma de despesas para o ano. No ano passado, esse
decreto veio, em fevereiro, com um corte de R$ 14,1 bilhões.
Durante o ano, o governo fez novas liberações
de R$ 1,7 bilhões e novo corte de 300 milhões.
No balanço final, o governo cortou R$ 12,7 bilhões
em 2003.
Os limites de gastos por ministério publicados ontem
mostram que a Saúde terá a maior receita: R$
2,1 bilhões para custeio e investimentos. A segunda
maior fatia vai para a Presidência da República,
R$ 463 milhões. De acordo com a assessoria da Casa
Civil, o acréscimo que houve neste ano em relação
ao ano passado foi o pagamento do Bolsa-Família.
O Orçamento de 2004 prevê R$ 1,5 trilhão
em receitas, mas R$ 860 bilhões desse total vêm
da emissão de títulos para refinanciamento da
dívida pública. São R$ 12 bilhões
em investimentos e mais R$ 33 bilhões do Orçamento
das empresas estatais. Um dos motivos para o aumento de receitas
promovido pelo Congresso foi a elevação da expectativa
de crescimento de 3,5% para 4%.
Lula tem feito discursos otimistas sobre as projeções
econômicas de 2004, principalmente comparando com 2003.
Na semana passada, ele disse, em Piracicaba (SP), que a economia
brasileira adquiriu uma capacidade de crescimento três
vezes superior à do ano passado -que foi quase nulo.
"Este é o ano em que a economia brasileira vai
dar resposta aos anseios, às aspirações
e às inquietudes de milhões e milhões
de brasileiros que estão à espera de uma oportunidade
de trabalho."
A sanção do Orçamento sem vetos é
um fato inédito desde 1995, segundo a assessoria de
Mantega.
A fixação de um cronograma de despesas para
o início do ano tem sido comum nos últimos anos.
Mas também era comum que o Congresso aprovasse um Orçamento
com receitas consideradas exageradas pelo Executivo.
Na semana passada, o secretário-adjunto da Receita
Federal Ricardo Pinheiro comentou que o valor das receitas
de tributos enviado originalmente pelo governo ao Congresso
já era "bastante realista", ou cerca de R$
286 bilhões. Esse valor foi elevado em R$ 11 bilhões
pelos congressistas.
Cerca de 40 tipos de despesas considerados obrigatórios
pela legislação não sofrerão a
limitação imposta aos gastos com custeio e investimentos.
Cada ministério terá um limite de gastos para
janeiro que soma R$ 4,3 bilhões.
SÍLVIA MUGNATTO
da Folha de S. Paulo
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