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saúde
19/01/2004
"Diabetes 2" é vilã para jovens obesos

A estudante Micheli de Souza Barros, 17, é diabética como seu seu pai, o taxista Mário Barros, 47. Os dois são portadores do mesmo tipo da doença -o tipo 2. A diferença entre eles, entretanto, é que Micheli descobriu a doença aos 14, e seu pai depois dos 40.

Por conta disso, Micheli integra um grupo que tem preocupado os especialistas nos cinco últimos anos, embora ainda não existam estatísticas no país.

O diabetes tipo 2, que até há poucos anos era considerado uma doença de adultos -surgia a partir dos 35 anos-, tem sido frequentemente identificado também em adolescentes e até em crianças. Nos EUA, 33% dos novos casos de diabetes na faixa dos 10 e 19 anos são do tipo 2.

O motivo da mudança no perfil dos pacientes, dizem os especialistas, é a crescente população de crianças e adolescentes obesos.

No Brasil, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 32% da população está acima do peso. Os casos de diabetes tipo 2 têm aumentado quase proporcionalmente nos últimos anos: já são 17 milhões de portadores, sendo que, devido às condições de saúde, outros 40 milhões correm o risco de adquirir a doença nos próximos anos.

"Outro fator preocupante é que a obesidade está presente em todas as classes sociais e desde a fase lactente. O Brasil está passando pelo que chamamos fase de transição nutricional -a população deixa de ser desnutrida para se tornar obesa", diz Cristiane Kochi, endocrinologista.

E, quanto mais obesa a população, maior a possibilidade de se desenvolver o diabetes tipo 2. "Pesquisas indicam que o paciente obeso tem maior propensão à resistência insulínica e, com isso, por mais que o pâncreas produza a insulina, ela não é usada pelo organismo", diz José Egídio de Oliveira, professor da disciplina de endocrinologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Essa é, inclusive, a diferença entre a diabetes tipo 1 e tipo 2. No primeiro, devido a uma falha no sistema imunológico, anticorpos atacam as células responsáveis pela fabricação de insulina no pâncreas. Por isso, a base do tratamento é a aplicação de insulina, para compensar o déficit. Já no tipo 2, a chamada resistência insulínica impede que o corpo aproveite o hormônio produzido.

Se em um adulto com mais de 40 anos o diabetes tipo 2 é motivo de preocupação, quando a doença acomete crianças e adolescentes, cujo corpo ainda está em fase de desenvolvimento, as preocupações são ainda maiores.

"O diabetes tipo 2 pode ficar sem diagnóstico por anos. Em muitos casos, o diagnóstico só é feito em decorrência de alguma complicação do diabetes", diz Durval Damiani, coordenador do Departamento de Diabetes Infantil da Sociedade Brasileira de Diabetes. Entre as complicações estão problemas coronários, colesterol alto, hipertensão arterial e excesso de pêlos.

Quanto mais cedo o diagnóstico, melhor será o controle da doença. "É importante enfatizar que os adolescentes obesos e com diabéticos na família estão no grupo de risco. Por isso, devem fazer um acompanhamento periódico do índice de glicose no sangue", diz Marcos Tambascia, endocrinologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Se a doença surge, principalmente, em decorrência do excesso de peso e do sedentarismo, combatê-lo se resume, em primeiro lugar, ao controle da obesidade. "A perda de peso aliada a mudança nos hábitos alimentares e atividades físicas resolvem até 25% dos casos, retardando o uso de medicamentos por até 10 anos", diz Damiani.

Para perder peso e manter-se em um patamar seguro, o paciente diabético precisa adotar uma dieta saudável. Para isso, deve contar também com o apoio da família. "Essa é a chave do sucesso no tratamento", finaliza.


DANIELLE BORGES
Free-lance para a Folha de S. Paulo

   
 
   
 

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