A estudante Micheli de Souza Barros,
17, é diabética como seu seu pai, o taxista
Mário Barros, 47. Os dois são portadores do
mesmo tipo da doença -o tipo 2. A diferença
entre eles, entretanto, é que Micheli descobriu a doença
aos 14, e seu pai depois dos 40.
Por conta disso, Micheli integra um grupo que tem preocupado
os especialistas nos cinco últimos anos, embora ainda
não existam estatísticas no país.
O diabetes tipo 2, que até há poucos anos era
considerado uma doença de adultos -surgia a partir
dos 35 anos-, tem sido frequentemente identificado também
em adolescentes e até em crianças. Nos EUA,
33% dos novos casos de diabetes na faixa dos 10 e 19 anos
são do tipo 2.
O motivo da mudança no perfil dos pacientes, dizem
os especialistas, é a crescente população
de crianças e adolescentes obesos.
No Brasil, de acordo com a Organização Mundial
da Saúde, cerca de 32% da população está
acima do peso. Os casos de diabetes tipo 2 têm aumentado
quase proporcionalmente nos últimos anos: já
são 17 milhões de portadores, sendo que, devido
às condições de saúde, outros
40 milhões correm o risco de adquirir a doença
nos próximos anos.
"Outro fator preocupante é que a obesidade está
presente em todas as classes sociais e desde a fase lactente.
O Brasil está passando pelo que chamamos fase de transição
nutricional -a população deixa de ser desnutrida
para se tornar obesa", diz Cristiane Kochi, endocrinologista.
E, quanto mais obesa a população, maior a possibilidade
de se desenvolver o diabetes tipo 2. "Pesquisas indicam
que o paciente obeso tem maior propensão à resistência
insulínica e, com isso, por mais que o pâncreas
produza a insulina, ela não é usada pelo organismo",
diz José Egídio de Oliveira, professor da disciplina
de endocrinologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro).
Essa é, inclusive, a diferença entre a diabetes
tipo 1 e tipo 2. No primeiro, devido a uma falha no sistema
imunológico, anticorpos atacam as células responsáveis
pela fabricação de insulina no pâncreas.
Por isso, a base do tratamento é a aplicação
de insulina, para compensar o déficit. Já no
tipo 2, a chamada resistência insulínica impede
que o corpo aproveite o hormônio produzido.
Se em um adulto com mais de 40 anos o diabetes tipo 2 é
motivo de preocupação, quando a doença
acomete crianças e adolescentes, cujo corpo ainda está
em fase de desenvolvimento, as preocupações
são ainda maiores.
"O diabetes tipo 2 pode ficar sem diagnóstico
por anos. Em muitos casos, o diagnóstico só
é feito em decorrência de alguma complicação
do diabetes", diz Durval Damiani, coordenador do Departamento
de Diabetes Infantil da Sociedade Brasileira de Diabetes.
Entre as complicações estão problemas
coronários, colesterol alto, hipertensão arterial
e excesso de pêlos.
Quanto mais cedo o diagnóstico, melhor será
o controle da doença. "É importante enfatizar
que os adolescentes obesos e com diabéticos na família
estão no grupo de risco. Por isso, devem fazer um acompanhamento
periódico do índice de glicose no sangue",
diz Marcos Tambascia, endocrinologista da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas).
Se a doença surge, principalmente, em decorrência
do excesso de peso e do sedentarismo, combatê-lo se
resume, em primeiro lugar, ao controle da obesidade. "A
perda de peso aliada a mudança nos hábitos alimentares
e atividades físicas resolvem até 25% dos casos,
retardando o uso de medicamentos por até 10 anos",
diz Damiani.
Para perder peso e manter-se em um patamar seguro, o paciente
diabético precisa adotar uma dieta saudável.
Para isso, deve contar também com o apoio da família.
"Essa é a chave do sucesso no tratamento",
finaliza.
DANIELLE BORGES
Free-lance para a Folha de S. Paulo
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