Educadores
afirmam que os dados do Saresp, apresentados ontem pela Secretaria
da Educação do Estado de São Paulo, não
retratam a realidade das salas de aula.
Segundo o presidente da Udemo (sindicato dos dirigentes de
ensino), Roberto Augusto Torres Leme, a divulgação
de outras avaliações no país e os relatórios
apresentados pelos diretores demonstram que a situação
do ensino estadual é preocupante.
Para Leme, a divulgação de dados incompletos,
sem a apresentação das escolas e municípios,
é problemática, pois impede a sociedade de participar
das mudanças na política educacional.
A avaliação da Apeoesp (Sindicato dos Professores
do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) é
a mesma: "O que nós conhecemos e sabemos é
que essa avaliação não é a correta.
Não é esse o resultado obtido na avaliação
dos professores no dia-a-dia dos seus alunos", disse
o presidente do sindicato, Carlos Ramiro de Castro.
"A política educacional do Estado prioriza um
único aspecto, o quantitativo", complementa.
Para Castro, falta uma avaliação científica,
que trabalhe com amostragem e priorize a realidade dos alunos.
A quantidade de alunos não é fundamental, segundo
ele. "É a mesma coisa que fazer uma pesquisa eleitoral
com 90% dos eleitores", afirmou.
Segundo Vera Masagão, coordenadora-geral de programas
da ONG Ação Educativa, o relatório traz
poucas informações. "É pouco útil
uma avaliação que não mostra pontos negativos,
aspectos para melhorar. Fica parecendo uma propaganda política
para elogiar o governo", disse.
Para ela, a avaliação de quase todos os alunos
só é necessária se puder ser utilizada
pelas escolas. "Se não for para fazer chegar até
a escola, não tem sentido fazer uma avaliação
censitária como essa, é puro gasto de dinheiro."
Cada escola recebeu apenas os dados referentes ao desempenho
de seus alunos, e não da pesquisa toda.
Na avaliação de Romualdo Portela, professor
de políticas públicas da Faculdade de Educação
da USP, esse tipo de apresentação é "estranha"
porque não há como saber quantos alunos tiveram
apenas nota 5 ou desempenho superior. "Tem uma certa
tentativa de ilusão. Um sistema de avaliação
que não permite fazer série histórica
é bastante questionável", diz. O Saresp
de 2003 tem metodologia diferente da dos anos anteriores,
o que não permite comparações.
"Setenta por cento dos alunos tiveram nota superior
a cinco. Isso é bom ou ruim? Em relação
ao ano passado, é melhor ou pior? Não há
como comparar o processo de aprendizagem sem um resultado
absoluto desses dados."
Para o Saeb (o sistema de avaliação da educação
básica do governo federal), nenhum Estado atingiu um
nível satisfatório para 4ª e 8ª séries.
O sistema de 2003 também não apontou melhoria
no nível de leitura em São Paulo. O Saresp não
avalia esse indicador.
FERNANDA FERNANDES
da Folha de S.Paulo
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