Depois
da reforma universitária, o Ministério da Educação
volta a provocar polêmica com um outro projeto, desta
vez com mudanças para o nível secundário.
Estados e dirigentes de escolas resistem à proposta
de fusão entre Ensino Médio e Educação
Profissional, modalidade extinta em 1997 que deve ser ressuscitada
pelo governo a partir de decreto a ser publicado nos próximos
dias.
Mesmo sem impor a adoção do sistema, batizado
de Ensino Médio Tecnológico, o projeto é
criticado. Um dos temores é de que a mudança
gere custos aos Estados, já que a intenção
do governo é ampliar o número de vagas do Ensino
Técnico, de 600 mil para 2 milhões.
"Em um encontro com representantes das 126 escolas de
ensino técnico do Estado, nenhum se mostrou favorável
à mudança, por isso não vamos adotá-la",
diz o superintendente da Educação Profissional
do Estado, Martim Barbosa.
Com a proposta, a ser implantada a partir de 2005, o governo
pretende encurtar a distância entre os jovens e o mercado
de trabalho. A partir do decreto, os Estados poderão
voltar a ter escolas em que, obrigatoriamente, o Ensino Médio
será com o técnico, desde que a carga horária
seja ampliada. E os dois sistemas - integrado e separado -
poderão conviver entre si.
Segundo o professor Antonio Ibañez Ruiz, secretário
de Educação Profissional e Tecnológica
do ministério, de cada cinco jovens que concluem o
Ensino Médio, só um ingressa na universidade.
"Queremos oferecer mais uma oportunidade, pois ter o
diploma de Ensino Médio não é suficiente
para conseguir trabalho".
A alternativa é criticada pelo vice-presidente da
Associação dos Dirigentes de Instituições
Federais de Educação Profissionalizante do Estado,
Edelbert Kruger:
"A mudança é um retrocesso, porque hoje
os cursos técnicos beneficiam em sua maioria pessoas
de baixa renda com idade entre 20 e 30 anos, enquanto o Ensino
Médio atende um público jovem e com renda maior.
A proposta de unificação prejudicará
os mais pobres, pois as vagas serão direcionadas aos
estudantes em idade regular. O governo precisa se perguntar:
que tipo de estudante quer atender".
A vice-diretora administrativa da Escola Parobé, em
Porto Alegre, Maria Iglete Alves, endossa o raciocínio
de Kruger.
Uma exceção na maré de críticas
é a Escola Técnica Santo Inácio, na Capital,
uma das poucas no país a funcionarem com unificação
entre os cursos de Ensino Médio e Técnico, graças
a uma adaptação especial no currículo
prevista na Lei de Diretrizes e Bases.
"É bom porque a gente não precisa perder
tempo fazendo um curso e depois o outro, e ainda por cima
já consegui trabalho", festeja o aluno Walter
Bernardo, 16 anos.
Por que é importante
- O decreto permitirá novamente a integração
do Ensino Médio com a Educação Técnica,
uma possibilidade que havia acabado com a reforma ocorrida
em 1997 e que separou as duas modalidades de ensino
- Atualmente, o sistema prevê que o aluno possa cursar
o Ensino Médio e, separadamente, o Técnico -
na mesma instituição ou em outra. Mas ele só
recebe o diploma profissionalizante quando termina o Ensino
Médio
- Depois da publicação do decreto, o Ministério
da Educação deve realizar estudos para definir
detalhes como carga horária e conteúdo da modalidade
Ensino Médio Tecnológico, uma opção
facultada às instituições
- O MEC oferece apoio técnico para os Estados que adotarem
o sistema. Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina
estão entre os parceiros
- Os recursos para investimento em cursos técnicos
seriam garantindos com o Fundo da Educação Básica
(Fundeb), projeto que deve ser enviado ao Congresso no segundo
semestre. Não há previsão de volume financeiro
- Os cursos técnicos de escolas estaduais têm
24 mil matriculados. As escolas federais técnicas somam
16 mil alunos
- Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas
Gerais somam mais de 75% das vagas de Ensino Técnico
do país
Argumentos pró-mudança
- O maior acesso a cursos profissionalizantes facilitará
o ingresso de jovens no mercado de trabalho
- A separação entre cursos dificultou o acesso
dos estudantes ao Ensino Técnico. O problema, segundo
o ministério, é que os alunos disputam vagas
com pessoas que já terminaram a escola e, a partir
da possibilidade aberta pela reforma, resolveram voltar aos
estudos para fazer apenas o Técnico
Argumentos contra
- Os alunos de cursos técnicos e profissionalizantes
têm perfis diferenciados
- A formação em massa em cursos técnicos
pode acarretar excesso de mão-de-obra, não sendo
absorvida pelo mercado de trabalho
- O projeto implicará aumento de custos aos Estados
- Alunos de 8ª série têm pouca formação
para ingressar em um curso técnico
As informações são
do Zero Hora.
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