XANGAI.
O Brasil quer negociar com a China um acordo bilateral para
suprir parte da demanda do país por alimentos nas próximas
duas décadas, em troca de investimentos em infra-estrutura
logística. As negociações começaram
em novembro de 2003, quando o ministro da Agricultura, Roberto
Rodrigues, visitou o país. No início deste ano,
o ministério sugeriu a formação de um
grupo de trabalho misto para estudar o aumento do consumo
na China e a capacidade do Brasil de atendê-lo. Os chineses
estão analisando a proposta e, nos próximos
dois ou três meses, segundo o ministro, deverão
se reunir com o governo brasileiro dar seguimento às
discussões:
"Os chineses estão muito interessados no assunto.
Entregamos a minuta de um documento com referências
a todos os temas que gostaríamos de discutir neste
grupo sino-brasileiro, inclusive a questão da infra-estrutura
logística. Esperávamos assiná-lo aqui,
durante a viagem do presidente Lula. Mas como o documento
é muito amplo, os chineses não se sentiram em
condições de aprovar tudo. Vamos afinar isso
nos próximos meses."
Mais que a possibilidade de assegurar um mercado para a produção
de alimentos no país, um acordo desse tipo permitiria
ao Brasil viabilizar sua necessidade de investimento em infra-estrutura
de transporte, como ferrovias e portos. A China patrocinaria
esses investimentos e o Brasil, por sua vez, os pagaria exportando
alimentos, sugere Rodrigues.
‘Corpo-a-corpo’
O ministro da Agricultura disse que, nos próximos
20 anos, a China enfrentará o maior êxodo rural
já visto num mundo. Cerca de 350 milhões de
pessoas, quase dois Brasis, deixarão o campo rumo às
cidades. Isso significa que uma significativa redução
na oferta de água para irrigação, em
razão da demanda maior nas áreas urbanas. Como
a agricultura chinesa depende muito da irrigação,
há expectativa de uma forte queda na produtividade
das lavouras e na oferta de alimentos.
"O Brasil, por sua extensão territorial, é
capaz de atender parte dessa demanda chinesa. Temos área
plantada de 62 milhões de hectares e, pelo menos, 90
milhões de hectares para serem ocupados pela agricultura.
Nós poderemos suprir o que eles não conseguirão
produzir", disse Rodrigues.
Depois de uma superprodução política
e do anúncio de várias parcerias de vulto em
Pequim, para “vender” o Brasil à China,
agora as negociações devem se estender ao varejo.
Essa é a avaliação de pelo menos dois
ministros da comitiva do presidente Lula, na segunda parte
da visita ao país asiático: Xangai.
O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim,
lembrou que, mesmo sem ter qualquer acordo comercial ou diplomático
a ser fechado nos próximos dois dias, somente o fato
de o presidente ter um encontro marcado com o primeiro-ministro
chinês, Wen Jiabao, já é mais do que significativo
para esta etapa.
"É o homem que comanda o país", disse
Amorim, destacando a importância de Xangai para os quase
500 empresários que acompanham a visita do presidente
Lula.
Para seu colega do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan,
Xangai deve despertar mais o interesse de novos investidores.
Os encontros serão menos focados em política
e mais em oportunidades. Inclusive para pequenas e médias
empresas, na indústria, no comércio e na agricultura.
As informações são do jornal O Globo.
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