HOME | COLUNAS | SÓ SÃO PAULO | COMUNIDADE | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS
 
 

infração
26/07/2004
Trabalhadores são escravizados em estados brasileiros

Asegunda lista elaborada pelo Ministério do Trabalho com os nomes dos infratores que exploram trabalho escravo no país contém os nomes de 41 proprietários rurais e oito empresas que foram autuados pelo governo federal e condenados em processos contra os quais não cabe mais qualquer recurso administrativo. A maior parte dos integrantes da lista é acusada também em ações na Justiça por crimes que vão de prática de trabalho escravo a sonegação de contribuição previdenciária.

Nas 49 fazendas, fiscais do Ministério do Trabalho, agentes da Polícia Federal e procuradores libertaram 2.300 pessoas que eram mantidas em situações análogas à de trabalho escravo e submetidas a formas degradantes de trabalho. Nas ações, realizadas de 1995 a 2002, o grupo constatou que os trabalhadores viviam em condições precárias de higiene, não recebiam alimentação, tinham seus salários e carteira de trabalho retidos, além de serem vigiados e proibidos de deixar as propriedades. A primeira lista, divulgada em novembro de 2003, continha 52 nomes e envolvia 5.100 trabalhadores.

Infratores
A partir de agora, os integrantes da lista não terão acesso a recursos de instituições financeiras estatais, como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste. Eles perdem ainda o direito a benefícios fiscais e outros subsídios.

Na nova lista de infratores aparecem políticos, como o prefeito de Unaí (MG), José Braz da Silva (PTB). Na cidade administrada por ele, foram assassinados três fiscais do trabalho há cerca de seis meses. Grandes empresas, como a Maeda Agroindustrial, uma das maiores produtoras de algodão do país, também aparecem na lista ao lado de famílias de fazendeiros reincidentes na exploração do trabalho escravo, caso dos Mutran, no Pará.

Da relação consta também o nome do fazendeiro Max Neves Cangussu, do Maranhão, que chegou a ser preso, um fato raro para quem comete esse tipo de crime. O fazendeiro mantinha 19 trabalhadores em regime servil. O único nome que aparece nas duas listas de infratores é o do fazendeiro Miguel de Souza Rezende, que também tem terras no Maranhão. Na primeira lista, ele aparece por ter mantido 70 pessoas nesse regime na fazenda Zonga. Já na segunda relação, o fazendeiro foi incluído por terem sido flagradas 64 pessoas na fazenda Rezende.

Pará e Mato Grosso
A família Mutran é citada três vezes nas duas listas. Na mais recente, aparece o nome de Evandro Chukuia Mutran, acusado de ter mantido ilegalmente, na fazenda Peruano, no Pará, 54 trabalhadores. Na relação de 2003, constava a empresa da família, a Jorge Mutran Exportação e Importação (Fazenda Cabaceiras, com 47 pessoas libertadas) e Aziz Mutran (Fazenda Mutamba, 48 pessoas libertadas). As duas propriedades também ficam no Pará.

Dos 49 casos registrados, 17 foram flagrados no Pará, 17 no Mato Grosso, nove no Maranhão, três em Rondônia, dois em Tocantins e um em Minas Gerais. A lista foi elaborada pela Secretaria de Inspeção do Trabalho, comandada pela auditora Ruth Vilela, criadora dos grupos móveis de fiscalização.

A relação com os nomes dos infratores está sendo mantida a sete chaves pelo governo, receoso de que sua divulgação crie obstáculos para a aprovação no Congresso Nacional da emenda constitucional que prevê a expropriação de terras onde forem flagrados casos de trabalho escravo. As propriedades que constam das duas listas seriam as primeiras a serem alvo de desapropriação para fins de reforma agrária.

A bancada ruralista faz dura oposição ao projeto e, até agora, está conseguindo evitar que a proposta seja incluída na pauta de votação da Câmara. Em meados de junho, a secretária Ruth Vilela encaminhou a diversos órgãos do governo a relação das empresas e dos fazendeiros autuados. À lista, foi anexada uma nota técnica com comentários da secretária. No documento, Ruth sugere que a lista seja uma referência para a adoção de medidas contra os exploradores da mão-de-obra escrava.

A assessoria do grupo Maeda Agroindustrial informou que a empresa sublocou o serviço de um empreiteiro para contratar a mão-de-obra e que não tinha conhecimento de como eram mantidos esses trabalhadores. O grupo informou que o caso ocorreu há alguns anos e nunca mais esse tipo de violação foi registrado nas terras da empresa. O GLOBO fez várias tentativas de contato com a família Mutran e não obteve retorno das ligações.

EVANDRO ÉBOLI
do jornal O Globo

   
 
 
 

NOTÍCIAS ANteriores
23/07/2004 Homofobia na escola é tema de congresso que reúne 150 países
23/07/2004
Pequenas e micro empresas empregam mais
23/07/2004 Fiscalização vê "depósito" de doentes mentais
22/07/2004 SBPC sugere dividir curso superior em ciclos
22/07/2004 Cempre irá destinar recursos para ONGs que trabalham com reciclagem
22/07/2004 Érika Bechara analisa lei que regulamenta ONGs
22/07/2004 Especialistas debatem caminhos da Educação de Jovens e Adultos
22/07/2004 Governo estuda criação do Dia Nacional do Desarmamento
21/07/2004 Prefeituras e ONGs poderão coletar armas
21/07/2004 Alvo, agora, são serviços domésticos