A
"indústria da esmola" -estimulada voluntariamente
ou involuntariamente pelos pais que colocam os filhos para
trabalhar nos sinais ou pelos motoristas que dão dinheiro
para as crianças- é o maior obstáculo
que o poder público e as organizações
não-governamentais enfrentam para tirar os meninos
da rua.
Na semana passada, a Folha acompanhou
três crianças de 9, 11 e 12 anos num sinal de
trânsito na Lagoa (zona sul do Rio). Em menos de 30
minutos, eles arrecadaram R$ 15. Um adolescente de 15 anos
com quem a reportagem conversou conta que, quando trabalhava
nas ruas, ganhava de R$ 70 a R$ 80 por semana fazendo malabarismo.
Por mês, dá uma média de R$ 280 a R$ 320,
mais do que o salário mínimo de R$ 260 aprovado
neste ano.
Os assistentes sociais da Secretaria
Municipal de Assistência Social do Rio confirmam que
o dinheiro que as crianças ganham nas ruas muitas vezes
supera o que a prefeitura, o Estado ou o governo federal têm
a oferecer em programas para acabar com o trabalho infantil.
Cláudia Gouveia, coordenadora
do projeto Trupe da Criança (que tenta tirar menores
da zona sul do Rio), conta que a maior dificuldade acontece
quando são os pais que mandam as crianças trabalharem
nas ruas.
"Atrair as crianças para
o projeto não é tão difícil quanto
convencer algumas mães de que a criança não
deveria estar na rua. Há garotos que dizem que não
freqüentam mais o espaço que a gente oferece porque
têm que dar uma cota diária de dinheiro para
os pais", afirma Gouveia.
Representantes de ONGs, da Prefeitura
do Rio e do Conselho Tutelar (órgão que é
independente do Poder Executivo) ouvidos pela Folha concordam
que o hábito de motoristas de dar esmolas nos sinais
prejudica o atendimento dessas crianças.
"No sinal, essas crianças
conseguem dinheiro com facilidade. No fim do mês, juntam
mais do que um salário de um trabalhador. Como a nossa
cultura é paternalista e incentiva a esmola, eles aprendem
que é mais fácil ficar no sinal do que trabalhar",
afirma o psicólogo Cláudio Oliveira, do Conselho
Tutelar de Vila Isabel (zona norte do Rio).
Para Antônio de Souza, coordenador
da ONG ExCola, a esmola dada nos sinais para crianças
pequenas tem repercussões negativas no futuro daquele
menino.
"As crianças menores costumam
ganhar mais dinheiro do que as mais velhas nos sinais porque
as pessoas têm sempre mais pena delas, mas muitas são
exploradas pelos pais. Ao atingirem a adolescência,
elas ganham alguma autonomia e não aceitam mais essa
exploração. Quando ficam mais velhas, passam
a não ganhar mais tanto dinheiro nos sinais e começam
a se envolver em pequenos delitos", diz Souza.
Ele afirma que a prefeitura deveria
fazer uma campanha para conscientizar as pessoas sobre os
prejuízos da esmola nos sinais.
O secretário de Assistência
Social do Rio, Marcelo Garcia, concorda que a esmola prejudica
o atendimento social, mas diz que não é papel
da prefeitura fazer uma campanha nesses moldes.
"A prefeitura não pode
orientar os motoristas a negar esmolas, mas sabemos que a
criança só está no sinal porque consegue
dinheiro", diz o secretário.
Garcia, Souza e Oliveira sugerem que
as pessoas procurem uma entidade de confiança que atenda
crianças para fazer doações, em vez de
dar esmolas.
As informações são
da Folha de S.Paulo, sucursal do Rio.
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