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concorrência desleal
26/07/2004
Ganho com esmola supera um salário mínimo

A "indústria da esmola" -estimulada voluntariamente ou involuntariamente pelos pais que colocam os filhos para trabalhar nos sinais ou pelos motoristas que dão dinheiro para as crianças- é o maior obstáculo que o poder público e as organizações não-governamentais enfrentam para tirar os meninos da rua.

Na semana passada, a Folha acompanhou três crianças de 9, 11 e 12 anos num sinal de trânsito na Lagoa (zona sul do Rio). Em menos de 30 minutos, eles arrecadaram R$ 15. Um adolescente de 15 anos com quem a reportagem conversou conta que, quando trabalhava nas ruas, ganhava de R$ 70 a R$ 80 por semana fazendo malabarismo. Por mês, dá uma média de R$ 280 a R$ 320, mais do que o salário mínimo de R$ 260 aprovado neste ano.

Os assistentes sociais da Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio confirmam que o dinheiro que as crianças ganham nas ruas muitas vezes supera o que a prefeitura, o Estado ou o governo federal têm a oferecer em programas para acabar com o trabalho infantil.

Cláudia Gouveia, coordenadora do projeto Trupe da Criança (que tenta tirar menores da zona sul do Rio), conta que a maior dificuldade acontece quando são os pais que mandam as crianças trabalharem nas ruas.

"Atrair as crianças para o projeto não é tão difícil quanto convencer algumas mães de que a criança não deveria estar na rua. Há garotos que dizem que não freqüentam mais o espaço que a gente oferece porque têm que dar uma cota diária de dinheiro para os pais", afirma Gouveia.

Representantes de ONGs, da Prefeitura do Rio e do Conselho Tutelar (órgão que é independente do Poder Executivo) ouvidos pela Folha concordam que o hábito de motoristas de dar esmolas nos sinais prejudica o atendimento dessas crianças.

"No sinal, essas crianças conseguem dinheiro com facilidade. No fim do mês, juntam mais do que um salário de um trabalhador. Como a nossa cultura é paternalista e incentiva a esmola, eles aprendem que é mais fácil ficar no sinal do que trabalhar", afirma o psicólogo Cláudio Oliveira, do Conselho Tutelar de Vila Isabel (zona norte do Rio).

Para Antônio de Souza, coordenador da ONG ExCola, a esmola dada nos sinais para crianças pequenas tem repercussões negativas no futuro daquele menino.

"As crianças menores costumam ganhar mais dinheiro do que as mais velhas nos sinais porque as pessoas têm sempre mais pena delas, mas muitas são exploradas pelos pais. Ao atingirem a adolescência, elas ganham alguma autonomia e não aceitam mais essa exploração. Quando ficam mais velhas, passam a não ganhar mais tanto dinheiro nos sinais e começam a se envolver em pequenos delitos", diz Souza.

Ele afirma que a prefeitura deveria fazer uma campanha para conscientizar as pessoas sobre os prejuízos da esmola nos sinais.

O secretário de Assistência Social do Rio, Marcelo Garcia, concorda que a esmola prejudica o atendimento social, mas diz que não é papel da prefeitura fazer uma campanha nesses moldes.

"A prefeitura não pode orientar os motoristas a negar esmolas, mas sabemos que a criança só está no sinal porque consegue dinheiro", diz o secretário.

Garcia, Souza e Oliveira sugerem que as pessoas procurem uma entidade de confiança que atenda crianças para fazer doações, em vez de dar esmolas.


As informações são da Folha de S.Paulo, sucursal do Rio.

   
 
 
 

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