Ao defender ontem o fato de ter
criado novos ministérios, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva afirmou, durante um discurso em Luziânia
(GO), que é necessário maior eficiência
para fazer chegar a quem precisa os recursos dos programas
que ele anuncia.
Em janeiro, ao assumir, Lula criou nove pastas -hoje são
35-, incluídas as cinco secretarias às quais
conferiu status de ministério. Com a reforma ministerial,
anunciada para dezembro, há a expectativa de que algumas
venham a ser extintas.
O enxugamento do número de pastas é defendido,
dentro do próprio governo, pelo ministro José
Dirceu (Casa Civil), para agilizar a administração
pública. O xadrez da reforma ministerial, porém,
passa pela entrada do PMDB no ministério.
Ontem, durante a abertura da 1ª Conferência Nacional
da Pesca, em Luziânia, ele fez uma série de elogios
ao trabalho do ministro José Fritsch, da Secretaria
Nacional da Pesca, uma das pastas cuja extinção
era cogitada.
"Eu fui muito criticado na época [da criação
da Secretaria Nacional da Pesca] porque muita gente que escreve
ou que fala na televisão possivelmente acha que peixe
voa e cai no prato da gente. Eles não tinham a dimensão
da totalidade de vocês", disse, referindo-se aos
1.200 pescadores presentes.
Mais adiante, o presidente afirmou: "Nunca consegui entender
porque, num país com uma costa marítima como
a nossa, o Ministério da Pesca [na verdade é
uma secretaria com status de ministério] foi tratado
como um item do Ministério da Agricultura".
Lula defendeu a criação do Ministério
do Turismo -que, antes, era vinculado ao Ministério
de Esportes. "Se é tão importante para
o nosso desenvolvimento, por que não criar? E criamos.
Criamos e estou orgulhoso."
"Disque-Povo"
Lula pediu aos ministros que instalem uma linha de telefone
para atender à população que vem tentando
buscar nos bancos oficiais, sem sucesso, o dinheiro das linhas
de crédito que ele criou.
"Nem sempre que a gente anuncia a liberação
de algum recurso esse recurso chega com a pressa que a gente
gostaria que chegasse", disse. Para resolver o problema,
o presidente sugeriu uma espécie de "disque-povo",
uma "linha direta com o governo".
"Crie no seu ministério um telefone para que as
pessoas que forem atrás do dinheiro que você
anunciou e não houver o dinheiro tenham uma linha direta
com o governo", disse Lula a Fritsch.
"Isso vale para a pesca e para a agricultura familiar.
[...] Isso vale para as outras áreas."
Para o presidente, a falta de agilidade na liberação
de crédito para os mais pobres deve-se à falta
de hábito dos bancos de trabalhar com essa parcela
da população.
"É preciso preparar, reformular, colocar mais
gente, formar as pessoas. Uma coisa é atender a um
grã-fino que quer R$ 500 milhões, outra é
atender a um companheiro que quer R$ 500", declarou.
Se não houver agilidade, Lula afirmou que ele mesmo
ficará numa situação difícil.
"Eu sou o presidente da República, e, ao anunciar
essas coisas, elas têm que começar a acontecer
porque, se não, ficará difícil",
afirmou.
Lula reafirmou que o país está no caminho certo
e que precisa dar oportunidade à melhora de vida dos
mais pobres: "Eu vou fazer isso nos quatro anos. Este
país precisa de uma chance. Muitas vezes a sorte se
apresentou diante do país e ela, por veleidades eleitorais,
foi jogada fora".
Por fim, Lula disse que lutou para assumir a Presidência,
mas ressaltou que não fará milagres: "Eu
sou presidente da República não com o objetivo
de fazer milagres, porque estes só Deus é quem
faz".
Bandeira
O porta-voz da Presidência, André Singer,
afirmou ontem que "não há nenhuma intenção
da Presidência da República de alterar a tradição
segundo a qual a presença do presidente nos palácios
da Alvorada e do Planalto é indicada pelo hasteamento
do Pavilhão Presidencial".
Pela tradição republicana, a bandeira do Palácio
da Alvorada é retirada do mastro quando o presidente
se ausenta da residência oficial. Quando Lula está
no Palácio, ela fica sempre hasteada.
No final de semana, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva realizou uma reunião com os ministros petistas
na Granja do Torto. Mesmo não estando no Palácio
da Alvorada, a bandeira permaneceu hasteada.
O jornal Folha de S.Paulo apurou que a ordem para a bandeira
ficar hasteada foi do presidente, que queria despistar a imprensa.
Gabriela Athias,
da Folha de S.Paulo.
|