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A julgar
pela fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
de um séquito de ministros, o país viverá
um cenário de Primeiro Mundo -pelo menos na área
de urgências em saúde. Um telefonema gratuito
ao 192 fará com que uma ambulância vermelha e
branca esteja na porta da casa do paciente em menos de 12
minutos.
O desafio, no entanto, é racionalizar: fazer com que
serviços semelhantes tocados pelos Estados atuem em
sintonia com o programa do governo federal, que será
gerenciado pelas prefeituras.
A oficialização, ontem, do Samu (Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência) federal se
deu com a entrega de 252 ambulâncias em uma cerimônia
na fábrica da Mercedes-Benz de São Bernardo
do Campo, na Grande São Paulo.
A promessa é 480 veículos até o final
do semestre e 1.480 no fim do ano. Até junho, serão
beneficiados 229 municípios e 45,8 milhões de
pessoas. Serão 32 centrais de regulação
com médicos 24 horas, informação sobre
a rede hospitalar e poder para garantir vagas. "O povo
quer ser atendido quando precisa ser atendido. E médico
é como polícia, quando você precisa, não
acha", disse Lula.
O programa, que pode parecer novo, vem na verdade na esteira
de 16 serviços que já atuam há anos dentro
do mesmo princípio do Samu. A idéia segue um
modelo francês que já era pregado em 1944. Aliás,
em setembro passado, o Ministério da Saúde fez
uma grande cerimônia em São Paulo para anunciar
o programa -a pasta divulga que a novidade de ontem foi Lula
oficializar o número 192 como telefone do serviço.
A maioria das 11 cidades até agora contempladas pelo
Samu federal é governada pelo PT -o ministério
alega que foram escolhidas porque já tinham o serviço.
Nos 229 que serão atendidos, as cidades petistas são
minoria, informou a pasta. Foram escolhidas aquelas que apresentaram
projetos adequados, disse o ministro da Saúde, Humberto
Costa.
Alguns Estados, como o Piauí, têm um maior número
de cidades contempladas porque pequenos municípios
formaram consórcios e apresentaram um único
projeto.
O investimento do governo federal prometido para o primeiro
ano é de R$ 297 milhões.
Concorrência
Costa prevê, pelo menos na fase inicial, uma
dificuldade de integração e até mesmo
uma "concorrência" entre Samu federal e o
serviço dos Estados -a dualidade está presente
na maioria das capitais, afirma. A idéia é levar
a discussão sobre "como integrar" para o
comitê gestor do serviço, também criado
ontem. "Nós vamos construir isso."
Em São Paulo, por exemplo, o Samu já existe
desde 1990 graças a uma ação conjunta
das secretarias estaduais da Saúde e da Segurança
Pública. Atende no 193.
Segundo Clara Whitaker, que coordena a área de urgências
da Prefeitura de São Paulo, o município e o
Estado, governados por PT e PSDB, respectivamente, ainda conversam
sobre a unificação, assunto que se arrasta há
anos.
De acordo com ela, antes de São Paulo aderir ao Samu
federal, tinha pouco a oferecer no processo de integração,
suas rede de urgências estava desestruturada e com ambulâncias
quebradas, daí a demora. "A unificação
vai racionalizar, melhorar o serviço."
Hoje, as centrais 192 e 193 ainda não têm uma
comunicação on-line, explica, o que evitaria
que duas ambulâncias atendam o mesmo caso, por exemplo.
Mesmo com a ajuda federal, a capital só atingirá
o número ideal de ambulâncias, 131, no segundo
semestre, disse ainda.
Costa afirmou que, no futuro, haverá integração
ainda com aviões e helicópteros do Salvaéreo,
da Aeronáutica, com as 115 ambulâncias e dez
helicópteros da Polícia Rodoviária Federal,
e todo o efetivo e equipamento do Corpo de Bombeiros, além
dos serviços privados ligados às concessionárias
das rodovias.
"Quando tomei posse, a impressão que eu tinha
é que esse país estava na UTI. Hoje ele já
está andando pelos corredores", disse ainda Lula
na apresentação.
Na cerimônia, apenas uma falha, embora ilustrativa:
para um presidente que veio anunciar um serviço de
urgência, atrasar uma hora não foi um bom sinal.
AURELIANO BIANCARELLI
FABIANE LEITE
da Folha de S.Paulo
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