Lançado
há quatro meses pela UFMG (Universidade Federal de
Minas Gerais) e pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais), o TerraCrime, um software de domínio público
que permite tratar o crime de forma científica, com
planejamento e prevenção, ainda não foi
implantado por Estados e municípios.
A Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública),
órgão do Ministério da Justiça
que encomendou o programa, está treinando pessoas ligadas
à segurança nos Estados.
Elas irão cuidar da difusão e da ampliação
do uso do geoprocessamento da criminalidade, de forma que
o software se torne um instrumento de uso corriqueiro das
polícias contra a escalada do crime no país.
Só Porto Alegre
Por enquanto, apenas Porto Alegre adotou o software e o utiliza
como um programa piloto. Outras capitais estaduais, como São
Paulo e Belo Horizonte, adotam programas semelhantes, embora
não sejam tão avançados quanto o TerraCrime
e não sejam softwares desenvolvidos especificamente
para essa questão.
De acordo com Luiz Fernando Corrêa, secretário
Nacional de Segurança Pública, órgão
do Ministério da Justiça, até julho as
três pessoas de cada Estado que passam pelo treinamento
-um da Polícia Militar, um da Polícia Civil
e outro da Secretaria de Segurança- estarão
aptas a iniciar a multiplicação do uso do programa
em todo o país.
A adesão das principais cidades a esse sistema de
mapeamento da criminalidade, associado a um outro programa,
o de uniformização dos dados das ocorrências
de crimes que são repassados para o Ministério
da Justiça, vai possibilitar, segundo Corrêa,
a criação, no futuro, de um plano nacional de
segurança.
"Cabe aos gestores estaduais e municipais a adesão
ao programa. Eles devem se articular com as secretarias de
Segurança Pública, que vão contatar os
municípios. A questão está bem encaminhada,
vamos sentir o reflexo já no ano que vem", declarou
o secretário nacional à reportagem da Agência
Folha.
Ferramenta necessária
O geoprocessamento do crime é um instrumento científico
reconhecidamente eficiente, mas só ele não basta,
segundo o sociólogo Róbson Sávio Reis
Souza, secretário-executivo do Crisp (Centro de Criminalidade
e Segurança Pública), da UFMG, que trabalha
com a Polícia Militar de Minas desde 1997.
"Se as polícias não tiverem instrumentos
necessários para operá-lo e gente qualificada
para analisar as inúmeras informações
que ele gera, não terá muito efeito. O software
é uma ferramenta necessária, mas insuficiente
para melhorar a segurança pública."
A Secretaria Nacional de Segurança Pública
crê na adesão dos municípios ao programa
como forma de política pública contra a criminalidade.
O sociólogo da UFMG também acredita nisso,
mas diz que a adesão se dará mais facilmente
porque as polícias não têm outros instrumentos
científicos para combater a criminalidade.
"Nos municípios com mais de 150 mil habitantes,
são praticados cerca de 70% dos crimes do país.
Então, por falta de opção, eles vão
ter que aderir", afirmou.
PAULO PEIXOTO
da Agência Folha, em Belo Horizonte
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