BRASÍLIA
- Depois de um intervalo de 10 anos, o governo brasileiro
promete enviar, na próxima semana, o segundo relatório
para o Comitê de Direitos Humanos das Nações
Unidas - um retrato sem retoques preparado pela Secretaria
Especial de Direitos Humanos, subordinada à Presidência
da República.
O compromisso foi assumido pelo Brasil em 1992, ao ratificar
o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos,
de 1966. O primeiro relatório, enviado há uma
década, foi elogiado pela ONU, que destacou a ''franqueza
e a abrangência das informações'', reconhecendo
o esforço do governo Fernando Henrique Cardoso em tentar
melhorar o quadro no país.
O segundo relatório vai pelo mesmo caminho. O documento
mostra, por exemplo, que a taxa anual de homicídios
no Brasil é de 49,7 por 100 mil habitantes. Entre os
jovens de sexo masculino, chega a 95,6. No Estado do Rio de
Janeiro, essa cifra atinge 205/100 mil.
"Os efeitos dessa tragédia já produziram,
em algumas regiões do país, alterações
demográficas semelhantes às dos períodos
de guerra e o tema da segurança pública constitui
uma das mais importantes preocupações nacionais",
diz o texto.
A assessora para Assuntos Internacionais da SEDH, Renata
Palizon, informou que o Itamaraty está concluindo a
tradução para o inglês do texto. Embora
não haja um prazo obrigatório para a apresentação
periódica de relatórios ao Comitê de Direitos
Humanos da ONU, a assessora da SEDH explica que a demora do
governo ''poderia criar uma situação política
desagradável''.
O relatório apresenta ainda fatos e números
(alguns defasados) sobre ''crianças e adolescentes
em risco'', sobre práticas de torturas nos distritos
policiais e prisões, trabalho escravo, ''exploração
sexual de crianças e adolescentes'', entre outros ítens.
Muitos dados do documento foram publicados pelos meios de
comunicação, mas o objetivo da Secretaria Especial
de Direitos Humanos é mostrar à ONU que a década
que separa o primeiro e o segundo relatório ''é
marcada por uma ambigüidade perturbadora: de um lado,
nunca se avançou tanto no Brasil na construção
de uma ordem jurídica comprometida com os Direitos
Humanos; por outro lado, algumas dessas conquistas ainda não
foram plenamente desdobradas em políticas públicas
e garantias efetivas para parte da população
brasileira''.
LUIZ ORLANDO CARNEIRO
do Jornal do Brasil
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