BRASÍLIA.
Falhas nos cadastros do programa Bolsa Escola fizeram 323
mil famílias receberem, desde setembro, tanto os benefícios
referentes a esse programa quando o dinheiro do Bolsa Família,
criado para unificar os programas de transferência de
renda do governo federal. O número representa 9% das
3,6 milhões de famílias que hoje recebem o Bolsa
Família. Cálculo inicial do governo aponta que
pode chegar a R$ 100 milhões por ano o gasto extra
criado com esse problema.
A partir de abril, pelo menos 23 mil dessas famílias
terão os benefícios depositados, mas não
poderão retirá-los. Um aviso aparecerá
para que elas procuram as prefeituras. O restante deverá
ser suspenso nos meses seguintes.
90% das duplicidades
O Ministério do Desenvolvimento Social descobriu
a duplicidade quando decidiu cruzar dados entre os beneficiados
hoje com o Bolsa Família e que estavam também
nos cadastros do Bolsa Escola, Cartão Alimentação
e Bolsa Alimentação — os programas que
foram unificados. Mais de 90% dos casos de duplicidade são
com o Bolsa Escola, considerado o pior cadastro entre os três.
No caso, por exemplo, do município de Caetité
(BA), dos 4 mil benefícios pagos no município,
600 tinham duplicidade com o Bolsa Escola e dois com o Cartão
Alimentação.
Pelos nomes e Números de Inscrição Social
(NIS) das crianças beneficiadas, o ministério
descobriu que, em muitos casos, elas estavam cadastradas com
dois responsáveis diferentes. Com isso, apesar da unificação,
as famílias passaram a receber o Bolsa Família
por um dos responsáveis, mas continuaram em outro com
o outro responsável cadastrado. Ou então, o
mesmo responsável tinha dois registros diferentes.
“Às vezes é apenas uma criança
de uma família inteira que está em duplicidade.
Isso pode acontecer tanto por erro do cadastrador como uma
tentativa de melhorar o benefício por parte da família”,
disse Claudio Roquete, diretor do Cadastro Único no
ministério.
Os recursos que não forem usados com o pagamento dessas
bolsas duplas voltam ao programa. Depois de confirmar se todas
essas inscrições devem mesmo ser excluídas,
seus lugares serão ocupados por outras pessoas que
esperam na fila. Segundo Roquete, a mudança não
compromete a meta de incluir mais 900 mil famílias
até o meio do ano, anunciada em fevereiro pelo ministro
Patrus Ananias.
Outros 50 mil benefícios estão com os saques
bloqueados desde janeiro. Nesses casos, ao verificar os nomes
no próprio cadastro único, o ministério
descobriu que havia algum tipo de duplicidade da família.
LISANDRA PARAGUASSÚE
CRISTIANE JUNGBLUT
do jornal O Globo
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