Em meio
às críticas sobre a paralisia do governo federal
após a divulgação do caso Waldomiro Diniz,
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem
não ter os "poderes de Deus para fazer milagres",
pediu otimismo e disse que a economia vai crescer, ainda que
não da forma que gostaria. Segundo ele, não
há crise no país.
"Senhores, não esperem que eu seja mais do que
um presidente da República. Só tenho a Constituição
para cumprir. Não tenho os poderes de Deus para fazer
os milagres", afirmou Lula.
O discurso foi feito na cidade de São Caetano do Sul
(SP), no ato da entrega de 305 carros para a Polícia
Rodoviária Federal na General Motors. Os veículos
foram comprados com recursos arrecadados por meio de multas
de trânsito.
Pesquisas divulgadas nos últimos dias revelaram queda
na popularidade do governo desde dezembro (leia texto nesta
página).
Com ironia, Lula disse ser "engraçado" o
momento vivido hoje no Brasil. "De vez em quando ouço
dizer que há crise [no governo federal]. Eu sei que
tem crise no Corinthians, que não ganha há muito
tempo. No São Caetano, certamente, não tem crise,
e muito menos tem crise no governo. O fato de termos divergências
políticas está longe de dizer que existe uma
crise", afirmou.
Sobre a mudança de humor da população,
Lula acredita na antecipação da disputa eleitoral
de outubro, quando serão escolhidos prefeitos e vereadores.
"Por que terminamos o ano com otimismo tão exagerado
e depois esse otimismo foi embora? Que crise aconteceu? Será
que a crise já é a eleição de
2004? Será que as pessoas estavam preocupadas que meu
partido ganhasse muitas cidades e precisam fazer o debate
político?", disse Lula a uma platéia de
1.500 pessoas.
O presidente disse estar "mais otimista do que nunca"
e que "deveríamos [todos]" estar mais otimistas.
Lula diz que o governo e o Banco Central têm sido cautelosos
e que não adotarão medidas "aventureiras".
Afirmou que as mudanças serão feitas "sem
loucura". "Certamente a economia vai crescer, se
não o tanto que gostaríamos, vai crescer o possível.
Mas é importante que todo mundo saiba que o Brasil
tem uma economia vulnerável."
Para explicar que "entende" o povo, contou uma
anedota que teria ocorrido com ele no início de sua
carreira sindical. "Um ministro do Trabalho me disse
que o trabalhador que se contenta com o salário que
ganha não merece o que ganha." Depois, adaptando
a história para o presente, continuou: "O povo
que se contenta com a política econômica que
tem não merece a que tem".
Lula disse que pediu ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci,
e ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que
debatam publicamente a economia. "Que se exponham, para
que possamos aferir, não os números ideais para
o futuro, mas o que éramos e o que somos hoje",
afirmou
O presidente atribuiu muitos de seus problemas a ingerências
de governos anteriores, que lhe deixaram dívidas e
uma relação delicada com municípios e
Estados.
Fogo amigo
Antes da cerimônia, o deputado federal Ivan Valente
(SP), da esquerda do PT, disse que a idéia de transição,
à qual o governo recorria para justificar a falta de
mudanças no país, está "esgotada".
Uma saída, apontada por ele, seria a substituição
de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda.
"O ministro tem de entender que escolheu uma polícia
econômica que está se esgotando. A população
quer mudança imediata", disse Valente. Segundo
o parlamentar, Palocci poderia ficar no governo desde que
tivesse em mente a necessidade de um redirecionamento da economia.
Para Professor Luizinho (PT), vice-líder do governo
na Câmara, o país está no caminho certo
e as críticas partem de vozes isoladas e sem representação
no país. Segundo ele, a opinião de Valente não
é majoritária no PT.
LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Folha de S.Paulo
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