O governo
Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu, em seu primeiro
ano, interromper o processo de enxugamento do quadro de pessoal
do União iniciado na década passada. Pela primeira
vez desde 1992, houve aumento do número de servidores
do Executivo.
Trata-se de uma política deliberada e com atenção
especial para a administração direta, as autarquias
e as fundações --que reúnem os funcionários
cujas funções envolvem contato mais direto com
a população.
Não por acaso, esse é o contingente acompanhado
mais de perto pelas estatísticas oficiais. Elas mostram
que a quantidade de servidores ativos dessas áreas
passou de 456,7 mil, em dezembro de 2002, para 459,4 mil no
ano passado, segundo dados coletados em outubro.
Ao final dos anos 80, antes do começo do processo
de redução dos quadros, eram 712,7 mil servidores
nesse grupo. Os governos Collor e FHC, eleitos com plataformas
de viés liberal, promoveram uma redução
quase ininterrupta do quadro --o crescimento verificado em
92 foi apenas resultado da reintegração de servidores
que haviam sido desligados no ano anterior.
No primeiro ano de Lula, a quantidade de servidores também
cresceu no Banco Central, no Ministério Público,
no Legislativo e no Judiciário --os três últimos
têm autonomia em relação ao Executivo
para contratar.
As estatísticas mostram ainda uma forte elevação
do número de militares, mas, segundo o Ministério
da Defesa, trata-se apenas de um efeito estatístico
decorrente das peculiaridades do setor: em dezembro de 2002,
os números estavam muito baixos em razão do
encerramento de carreiras.
Ao todo, o número de servidores da União passou
de 848,8 mil, no final da gestão FHC, para 898,4 mil.
Excluídos os militares, o aumento é de 569,5
mil para 576,9 mil nos três Poderes.
Os números não chegam a impressionar pelo tamanho,
mas é preciso levar em conta que, no ano passado, houve
uma corrida por aposentadorias no serviço público
em razão da reforma da Previdência.
Só na administração direta, nas autarquias
e nas fundações, o número de aposentados,
que vinha em queda desde 1998, cresceu de 382,3 mil para 387,1
mil. Ou seja, o governo Lula foi capaz de, pela primeira vez
nos últimos anos, repor os servidores que deixaram
o governo e ainda promover uma elevação do quadro.
Mais importante que isso, existe, assumidamente, uma intenção
de recompor os quadros do Executivo, justificada pelo discurso
oficial de que é preciso ampliar a quantidade e a qualidade
dos serviços do Estado --apesar de as metas e a estratégia
ainda não serem claras.
Um estudo do Planejamento calculou que será necessário
o ingresso de 85,5 mil novos servidores só para compensar
as aposentadorias previstas até 2007. O responsável
pelo trabalho, porém, o ex-secretário de Gestão
Humberto Martins, deixou o cargo em fevereiro, com críticas
ao governo. A secretaria está paralisada.
Emergência
Segundo Regina Luna, diretora do Departamento de
Análise e Monitoramento de Força de Trabalho
do ministério, as contratações feitas
no ano passado tiveram um caráter emergencial e se
concentraram em duas áreas: o INSS (Instituto Nacional
do Seguro Social) e as universidades.
No primeiro caso, o propósito foi substituir funcionários
terceirizados. No segundo, reduzir a proporção
de professores substitutos, uma espécie de quebra-galho
adotado para driblar as restrições orçamentárias.
Os dois objetivos mostram a precariedade com que trabalha
o governo. Não há, segundo Luna, nenhum levantamento
confiável sobre o número de funcionários
terceirizados que hoje prestam serviços ao governo
federal.
Nas universidades, que receberam cerca de 15 mil novas vagas,
o governo não tem como avaliar se as contratações
estão atendendo as áreas necessárias.
"A gente não tem clareza se o pessoal que está
nas universidades está distribuído de forma
adequada", diz ela.
As informações são
da Folha de S.Paulo.
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