BRASÍLIA
- Na primeira conversa com jornalista depois do caso Waldomiro
Diniz, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse
estar certo da retomada do crescimento econômico do
país este ano, tanto que, revelou, o Brasil não
vai renovar o acordo com o Fundo Monetário Internacional.
Mas vai sair do FMI "sem gritaria, sem estardalhaço,
naturalmente" e avaliou que "o pior já ficou
para trás".
E mesmo diante da pressão dos próprios aliados,
mais uma vez referendou a política econômica
comandada pelo ministro Antonio Palocci, garantindo que o
rumo está certo e dele não vai se afastar "nem
meio milímetro". As afirmações do
presidente foram feitas em conversa com o comentarista de
política da Rede Globo, Franklin Martins, na manhã
de quinta-feira e revelada no Jornal Nacional. Aparentando
tranqüilidade e estar à vontade no comando do
governo, Lula fez elogios aos ministro José Dirceu
e foi categórico: "Dirceu fica no ministério".
O presidente Lula reconhece que a questão de desemprego
é a que mais preocupa porque, segundo disse ao jornalista,
a retomada do emprego é a última coisa que aparece
quando acontece a retomada do crescimento. E, numa demonstração
de que tem a paciência necessária para aguardar
os resultados, ele fez uma comparação:
“É preciso não se afobar. É como
a dona de casa preparando a ceia de Natal. Como a comida sai
mais tarde, as crianças começam logo a reclamar.
O que ela deve fazer? Ficar nervosa, largar a cozinha e deixar
o peru queimar no forno? Não, ela deve fazer bem feita
a ceia de Natal. Depois, na mesa, todo mundo vai elogiar”
.
Na conversa, em que fumou duas cigarrilhas e tomou duas xícaras
de café (pequenas, disse ele, para reduzir o café
à metade), o presidente Lula avaliou que a crise política
decorrente do episódio Waldomiro Diniz foi inchada
pela oposição. E contou que lera a reportagem
da revista Época - com a denúncia de que o ex-assessor
parlamentar da Casa Civil pedira propina a um empresário
de loterias - às 10 e meia da manhã e ao meio
dia, "o sujeito já estava demitido" e a investigação
aberta. Portanto, concluiu o presidente, o governo fez o que
era preciso fazer.
“O resto é com o Congresso. A oposição
tem todo o direito de pedir CPI. Afinal, o PT quando estava
na oposição, não pedia?”
O presidente Lula fez muitos elogios ao ministro José
Dirceu, afirmando que ele fizera "um trabalho extraordinário"
na articulação política e foi decisivo
para o sucesso do governo no primeiro ano do mandato. Mas
admitiu:
“Mas ele sentiu o caso Waldomiro; isso mexeu com as
entranhas dele" - reconheceu o presidente, admitindo
o abatimento do ministro com a repercussão do caso.
Lula considerou compreensível a reação
de José Dirceu e procurou mostrar que isso é
normal quando alguém honesto sofre qualquer tipo de
acusação, ainda que indireta - com o escândalo
de seu ex-assessor, Waldomiro Diniz.
“Quando um ladrão é envolvido num episódio
como esse, no dia seguinte ele dá entrevista na televisão,
rindo. Mas para uma pessoa honesta, é uma situação
terrível, ainda mais porque atingiu o filho dele”.
Mesmo com os elogios, o presidente Lula, na conversa com
Franklin Martins, reconheceu que o ministro José Dirceu
"andou falando mais do que devia" e citou como exemplo
a entrevista ao jornalista Merval Pereira, colunista de O
Globo, na qual fez críticas aos governadores de Minas,
Aécio Neves, e de São Paulo, Geraldo Alckmin.
O presidente afirmou que os governadores não fazem
nada de errado quando pedem recursos à União,
pois é assim que acontece: a população
cobra dos prefeitos, os prefeitos cobram dos governadores
e os governadores cobram da União. E usando exemplos
de articuladores políticos de governos passados, o
presidente disse ter dado um conselho ao ministro José
Dirceu:
“O governo não precisa do bateu-levou do Collor
ou do trator do Sérgio Motta no governo Fernando Henrique.
Precisa é de governar e Dirceu é uma peça
chave nesse esquema. O debate fica para os partidos no Congresso”.
O presidente Lula fez questão de mostrar a unidade
do governo, afirmando que "não existe esse negócio
de jogar um contra o outro; de Dirceu puxar o tapete do Palocci
ou vice-versa".
“Quando há uma divergência, isso se resolve
naquela mesa ali, disse, apontando para a mesa de reuniões
do gabinete no terceiro andar do Palácio do Planalto.
Discute-se, quebra-se o pau, mas quando a reunião acaba,
a decisão é de governo", disse, no Jornal
Nacional da Rede Globo.
Depois de citar muitos projetos do governo, inclusive a construção
de 40 mil casas para substituir palafitas em todo o país,
o presidente Lula disse que nunca se sentiu tão bem
na vida e revelou que tem feito caminhadas de 45 minutos na
esteira, diariamente, e que a pressão arterial está
ótima: 11 por sete. Reconheceu que continua fumando
cigarrilhas, mas prometeu largar o vício.
CRISTIANA LÔBO
do jornal O Globo
RODRIGO COELHO
da BBC Brasil
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