O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem a um grupo
de representantes do movimento hip hop que foram recebidos
por ele no Palácio do Planalto que "este é
o ano mais difícil de todo o governo", culpou
"os conservadores" pela atual crise política
e previu "uma guerra" contra a sua administração.
A Folha teve acesso à audiência e presenciou
a conversa de Lula com os artistas. A reportagem foi convidada
a participar do evento por integrantes do movimento.
Lula se encontrou com músicos como MV Bill, Rappin'hood,
o grupo Racionais e Gog, que foram a Brasília pedir
maior interlocução com a gestão. No fim
da conversa, quando já se abraçavam e tiravam
fotografias, Lula pediu silêncio para fazer um "alerta".
"Este é o ano mais difícil de todo o governo.
O ano passado foi um ano econômico muito difícil.
Este ano é um ano político muito difícil."
Em tom professoral, ele continuou: "Por que político?
Porque nós terminamos o ano [de 2003] muito bem. Ou
seja, todo mundo pensava que a gente não ia conseguir
recuperar a credibilidade deste país e chegar ao final
do ano numa situação confortável. E nós
provamos que sabemos tomar conta do pedaço".
"E o que aconteceu?", prosseguiu Lula. "Os
conservadores sabem se reorganizar. Eles têm pesquisas
de opinião pública e sabem que nós podemos
ganhar [as eleições] em muitas capitais neste
ano. Então, todo esse barulho que vocês estão
ouvindo por aí é a demonstração
do que vai ser este ano. Neste ano, pelo que estão
dizendo aí, parece que vão fazer uma guerra
contra o governo."
Informalmente, Lula acabou fazendo a declaração
mais aberta sobre o que pensa do momento político de
seu governo --que vive um terremoto desde 13 de fevereiro,
quando foi veiculado que o ex-subchefe do Planalto, Waldomiro
Diniz, pediu propina em 2002 para si e para campanhas do PT
e do PSB a um empresário do jogo. À época,
trabalhava no governo Benedita da Silva (PT-RJ).
Waldomiro saiu do governo, mas o caso só cresceu desde
então. Com a paralisia do governo, as dificuldades
econômicas do país e o enfraquecimento político
de José Dirceu (Casa Civil) --até então
homem mais poderoso da Esplanada dos Ministérios--,
aliados aproveitaram para exigir cargos e emendas parlamentares.
A crise quase provocou o esfarelamento da base aliada. Para
contê-la, o governo foi obrigado a fazer uma série
de concessões.
Na conversa com os músicos, o presidente não
disse quem seriam os "conservadores" em questão.
Ontem, a oposição liderada por PFL e PSDB lançou
um fórum para tentar unificar seu discurso. Aliados
como o PL e o PMDB, além do próprio PT, têm
feito críticas à política econômica.
Lula afirmou ainda que "o governo nunca pode perder
a tranqüilidade" e disse aos músicos: "Vocês
nunca vão me ver ficar nervoso com isso. Eu já
apanhei tanto na minha vida". Para ele, os músicos
do hip hop, que só chamavam o presidente de "você"
e o governo petista de "nosso", têm de aproveitar
enquanto ele estiver exercendo o poder no Planalto.
"O importante é vocês terem claro o seguinte:
nós temos um mandato de quatro anos. Vamos aproveitar
para prestigiar companheiros como vocês. Os companheiros
de "depois" [de ter sido eleito] têm qualidade.
Mas os de antes têm muito mais qualidade."
MÔNICA BERGAMO
da Folha de S.Paulo
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