Pesquisas
feitas por duas das principais universidades do Brasil, a
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade
de Brasília (UnB), mostram que os alunos que fizeram
o ensino médio na rede pública tendem a ter
um desempenho melhor durante o ensino superior.
Os levantamentos das duas universidades vão ao encontro
das idéias do ministro da Educação, Tarso
Genro, que defende reserva de vagas para alunos menos favorecidos,
como os de baixa renda, além de negros e índios.
Uma proposta que determina a reserva de vagas nas universidades
federais para os alunos provenientes de escolas públicas
foi aprovada pelo Senado no mês passado. O texto ainda
será analisado pela Câmara dos Deputados.
A Unicamp constatou que os alunos que fizeram o ensino médio
na rede pública tiveram um desempenho melhor do que
os da particular, comparados os com notas parecidas no vestibular.
O estudo concluiu que os alunos que vieram de escola pública
tiveram, na classificação final, em média,
desempenho 4% superior aos das escolas privadas: numa turma
de cem alunos, os de escolas públicas avançariam,
em média, quatro posições em relação
aos das privadas.
A pesquisa foi realizada com cerca de 7.000 alunos que ingressaram
na universidade entre 1994 e 1997. Os alunos foram acompanhados
até 2002, quando 4.955 já tinham se formado.
O estudo avaliou os que haviam se formado e também
os que ainda não tinham concluído o curso.
"Acreditamos que isso seja porque o estudante da escola
pública enfrentou muito mais obstáculos e dificuldades
do que aquele que passou a vida na escola privada. Se, no
vestibular, ele tirou nota semelhante ao da escola privada,
é porque ele tem mais capacidade. Quando você
coloca os dois nas mesmas condições, o que tem
mais capacidade se dá melhor", afirma o reitor
da Unicamp, Carlos Henrique de Brito Cruz.
Para Cruz, a explicação do efeito não
é que a escola pública seja boa, mas justamente
o contrário. "Pelo fato de ela ser ruim, o aluno
tem de vencer o obstáculo da precariedade do curso
e consegue correr mais rápido que os outros que não
tiveram esse desafio."
Renato Pedrosa, coordenador de pesquisa da comissão
do vestibular, destaca que não é possível
dizer que os alunos da rede pública são melhores
"no geral". "Os alunos da rede pública
são melhores se partem do mesmo nível [nota
no vestibular] que os outros", afirmou Pedrosa.
O estudo está sendo analisado por uma comissão
do Conselho Universitário da instituição,
que deverá propor formas de acesso à universidade
que proporcionem maior inclusão social.
UnB
Na UnB, os estudantes que participam de algum tipo
de programa de auxílio em 56 cursos têm rendimento
melhor em 55 -apenas em educação artística
o fato não ocorreu. Por volta de 2.500 alunos recebem
auxílio, o que equivale a cerca de 10% do total. Os
dados referem-se ao primeiro semestre de 2003.
Segundo a responsável pela Diretoria de Desenvolvimento
Social da universidade, Maria do Socorro Gomes Mendes, quase
a totalidade dos estudantes beneficiados provém da
rede pública (da particular, há apenas alguns
que ganharam bolsa). "Todos são de baixa renda.
Com a ajuda, tentamos diminuir a evasão e a reprovação
dos alunos", disse.
"Podemos dizer que um aluno de baixa renda valoriza
mais a vaga. Ele sabe que é uma das poucas oportunidades
de ascensão", apontou Mendes.
Os estudantes de baixa renda da universidade ganham desconto
no restaurante, auxílio-moradia ou ajuda de custo.
FERNANDA MENA
FÁBIO TAKAHASHI
CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo
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