A terceirização
de serviços, que invadiu o mundo dos negócios
e ganhou força na década de 90 no Brasil, começa
a crescer no campo familiar. Escolas de ensino fundamental
vêm percebendo que, com menos tempo (ou paciência)
para dar atenção aos filhos na hora de acompanhar
a vida escolar, pais têm delegado algumas funções
a profissionais.
Os diretores do colégio particular Miraflores, em
Niterói (cidade na região metropolitana do Rio),
contam que se surpreenderam quando, no fim do ano passado,
uma secretária se apresentou como assessora dos pais
em uma reunião realizada na escola para tratar de problemas
de aprendizado de uma criança.
Caso parecido aconteceu na escola Lourenço Castanho,
no bairro da Vila Nova Conceição (zona sul de
São Paulo), na quinta-feira passada. Uma das diretoras
da escola, Jeannette de Vivo, afirma que uma babá compareceu
a uma reunião marcada com os pais de um aluno com o
objetivo de explicar como a escola estava alfabetizando as
crianças.
Ela conta que, em vez de condenar os pais, preferiu incluir
a babá no grupo, pois a escola já percebera
que, por falta de tempo da família, era ela quem mais
ajudava a criança com os deveres de casa.
Empresa
A demanda por esse tipo de profissional fez até
com que a ex-gerente de marketing Cláudia Parnes abrisse
no Rio uma empresa de profissionais que se propõem
a fazer a função de mãe. As "mães
de plantão", como ela batizou o serviço,
vão à casa do aluno para ajudá-lo a fazer
os deveres e a organizar sua vida escolar.
Em São Paulo, a professora Úrsula Brech, que
há 15 anos orienta estudantes com dificuldade de aprendizado,
diz que, ultimamente, tem recebido pedidos de pais e mães
para atender também crianças cujos pais não
têm tempo para acompanhá-las.
Parnes, mãe de quatro filhos, iniciou em 2002 o serviço
de "mães de plantão". No início,
ela era a única. Hoje, já são oito.
"Como mãe, sempre senti falta de alguém
que me ajudasse com os deveres escolares de meus filhos. Chegava
em casa cansada e, na hora que eles queriam me contar alguma
coisa legal, tinha que brigar com eles", disse.
Ela explica que a função de uma "mãe
de plantão" é mais ampla do que a de um
professor particular. "A idéia é acompanhá-lo
no local onde estuda para vermos se está adequado,
se o horário é o melhor e se ele não
está sobrecarregado com outras atividades. Além
de ajudar com os deveres, checamos a agenda do aluno para
ver as datas das provas e ajudá-lo a se programar para
estudar. Também conversamos com os pais e sugerimos
mudanças", afirmou.
ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo
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