Levantamento
da Fundação Seade mostra que um em cada cinco
óbitos ocorridos no estado de São Paulo ocorre
fora do município de residência. Em 2002, os
óbitos em cidades fora do domicílio atingiram
43 mil. A explicação, segundo o demógrafo
Antonio Marangoni, está na falta ou na pouca disponibilidade
de recursos hospitalares, o que leva as pessoas a procurarem
os centros médicos especializados das cidades maiores.
"Algumas cidades só oferecem o pronto-atendimento,
mas não têm equipamentos para realizar os exames
que o paciente precisa fazer. Algumas cidades têm poucos
ou nenhum recurso", afirma Marangoni.
Para se ter uma idéia, em 2002 a taxa de evasão
superou 40% em 362 dos 645 municípios do estado. Nada
menos do que 209 tiveram uma evasão superior a 60%.
É claro que boa parte corresponde a cidades do interior,
pequenas e com menor número de mortes, mas indica que
a população destes locais precisa se locomover
e às vezes percorrer grandes distâncias para
ter atendimento médico.
Em 2002, apenas 16 cidades do estado registraram menos do
que 5% dos óbitos registrados em outras cidades. Ou
seja: não "exportaram" doentes para serem
atendidos em outros locais. Entre os 39 municípios
da Região Metropolitana, apenas a capital está
nesta lista, com um índice de apenas 4,7%. Os outros
15 são também cidades-sedes de regiões
administrativas ou abrigam a Direção Regional
de Saúde. Fazem parte desta lista cidades como Ribeirão
Preto, Presidente Prudente, Marília e São José
do Rio Preto.
Segundo o levantamento, 87% das mortes ocorridas fora do
município de residência ocorreram em hospitais.
Os dados indicam ainda que as pessoas saem de suas cidades
atrás de tratamentos especializados. A maior parte
das mortes fora do local de residência ocorre por doenças
ligadas ao aparelho circulatório e cardíaco
(26%). Em segundo lugar na lista aparece o câncer (18,7%),
seguido por doenças respiratórias (9,4%), do
aparelho digestivo (6,1%) e infecciosas e parasitárias
(5,8%). Causas externas, como acidentes de trânsito
e afogamentos, respondem por 17,4% dos casos de morte fora
da cidade de residência e normalmente ocorrem em viagens.
Cidades com centros médicos reconhecidos têm
alto índice de mortes de pessoas que não moram
nelas. Em São José do Rio Preto, por exemplo,
este índice chega a 41%. Em Ribeirão Preto,
a 34%; em Campinas, a 24%; e em Sorocaba, a 32%. A capital
paulista teve em 2002 nada menos do que 10 mil mortes de não-residentes,
o que corresponde a uma taxa de 13%.
"Em Jaú, por exemplo, onde há um hospital
especializado em câncer, a taxa de morte de não-residentes
chega a 50%", conta Marangoni.
Marangoni explica que a estatística é importante
para que o governo possa distribuir melhor a verba de saúde.
Normalmente, a divisão de recursos é feita com
base na população residente, sem levar em conta
que o município atende a habitantes de cidades próximas.
Os dados do Seade indicam ainda que São Paulo recebe
vários doentes de outros estados. Em 2002 morreram
em cidades paulistas 2.125 pessoas de fora. Mais da metade
delas (55%) morreram em municípios que abrigam centros
hospitalares, como São Paulo, Campinas, Barretos, São
José do Rio Preto e Ribeirão Preto. Os estados
de procedência foram Minas Gerais (45,1% dos casos),
Paraná (11,7%), Mato Grosso do Sul (8,6%) e Rio de
Janeiro (8%),
CLEIDE DE CARVALHO
do Globo Online
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