|
Cópias
e modelos de currículos, guia de endereços de
agências de emprego e acesso à internet são
mercadorias em alta na Rua Barão de Itapetininga
A informação é a principal mercadoria
vendida na Rua Barão de Itapetininga, no Centro, parada
obrigatória dos 2 milhões de desempregados da
região metropolitana, por causa das 10 agências
de emprego instaladas no número 140. Sob a forma de
currículos, cópias de xerox, acesso à
internet ou guia de agências, essa mercadoria é
cotada a R$ 1 ou R$ 2 no máximo, quando não
em centavos, e acessível a pessoas que há muito
tempo não sabem o que é receber salário.
“O segredo de trabalhar com
desempregado é oferecer serviço de qualidade
a custo baixo”, diz o argentino Alejandro Barroso, de
29 anos. Instalado em uma sala do número 88 da Barão,
ele oferece acesso à internet por R$ 2 a hora para
o envio ou cadastro de currículos. A história
dessa sala mostra como a internet é um promissor negócio
na rua dos desempregados. Alejandro arrendou o negócio
do seu vizinho, Marcelo Winther, um advogado trabalhista que
dois anos antes oferecia o serviço em seu escritório
nas horas vagas. A procura foi crescendo a tal ponto que Winther
se viu obrigado a passar o negócio adiante. Com Alejandro,
o número de micros saltou de cinco para 15.
“Ao longo do ano, esse negócio
cresceu muito e tem mercado para isso por aqui. A pessoa não
vai conseguir entregar um currículo em mãos
na Johnson & Johnson, mas pela internet ela consegue.
Para as empresas também é mais barato analisar
os currículos que entram em sua base de dados do que
colocar gente para recebê-los.”
Além do acesso aos sites de
emprego, cada micro traz também um modelo de currículo
para o desempregado preencher e imprimir. Cada folha impressa
custa R$ 0,50 e, para quem precisar, tem envelope a R$ 0,30.
Segundo Barroso, a cada semana são impressas pelo menos
mil folhas de currículo.
O desempregado Sandro Vieira, de 29
anos, descobriu a sua fórmula de ganhar dinheiro na
Barão. Ele vende informação a R$ 2, sob
a forma de apostilas de uma ou duas páginas que ele
monta em casa, com endereços, e-mails e telefones dos
departamentos de recursos humanos de grandes empresas. De
uma bolsa a tiracolo, ele saca a apostila a gosto do freguês:
uma só para emprego em telemarketing, outra só
para trabalhar em hospital e assim por diante. “É
totalmente atualizado, eu garanto as informações”,
diz ele, ao abordar desempregados na fila que leva às
agências de emprego.
Ana Cristina da Conceição,
do Diário de S.Paulo.
|