|
De branco, de azul e, em alguns casos, até de
preto. De vestido, véu e grinalda -como manda o figurino-
ou apenas de calça jeans e camiseta. Alegres, nervosos
ou ansiosos, cerca de 1.400 casais disseram "sim"
ontem durante o maior casamento comunitário já
realizado no país, com direito a bem-casados, bolo,
presentes e até viagens de lua-de-mel.
O recorde anterior era de cerimônia
realizada em 2003, que reuniu 820 casais em Ribeirão
Preto (SP).
A cerimônia de legalização
da união civil dessas centenas de noivos aconteceu
ontem pela manhã, no ginásio do Ibirapuera,
em São Paulo, e reuniu, segundo a Polícia Militar,
cerca de 8.000 pessoas.
Organizado pela Secretaria da Justiça
e da Defesa do Estado de São Paulo, o casamento foi
destinado à população de baixa renda,
que não pode pagar a salgada taxa de R$ 222 cobrada
para o registro civil de casamento em cartório.
"Agora ninguém pode usar
a desculpa de que não dá para casar porque não
pode pagar o registro. A lei [o novo Código Civil]
garante a gratuidade da união civil para as pessoas
que não podem pagar por ele", brincou o governador
Geraldo Alckmin (PSDB), que, ao lado da mulher, Lú
Alckmin, foi o padrinho oficial da cerimônia.
Inversões
O tradicional atraso da noiva para a cerimônia não
aconteceu: os casais, que vieram de todas as regiões
da capital, chegaram cedo.
Antes do início oficial da
cerimônia, às 10h, a noiva Maria José
Basílio da Silva, 35, grávida de nove meses,
começou a sentir contrações e entrou
em trabalho de parto. Ela e o então noivo, Sérgio
Ferreira, 41, tiveram de passar na frente dos demais casais
e correr para o hospital -já com a certidão
em mãos.
Depois de discursos e agradecimentos
a empresas e associações que financiaram o evento,
Napoleão José do Nascimento, 68, e Irani Rosa
Brito Ramos, 65, foram os primeiros a caminhar até
o altar para abrir oficialmente a cerimônia. Sob uma
chuva de bexigas e muitos aplausos, Nascimento, que vive com
sua companheira há 35 anos, disse "sim".
Operação casamento
Foi esse o começo de uma grande operação
em que os casais eram chamados para uma das 43 mesas cartoriais
distribuídas pelo ginásio, nas quais ocorria
a troca de alianças e a assinatura das certidões.
Diante de cada mesa cartorial formaram-se filas de noivos.
"Casei por causa do bebê, mas estou louca para
ir embora. Casar com essa barriga cansa demais", reclamava
Viviane Macedo, 23.
Liziane Garcia, 24, grávida
de nove meses, casou ontem e vai hoje à maternidade
realizar seu primeiro parto. "Eu sonhava em casar primeiro
e em só depois ter um filho. Mas, como fui apressadinha,
tive de casar depois da barriga mesmo", contou.
Me dê motivos
Ela estava ansiosa, com um vestido de mangas bufantes e saia
volumosa. Ele, incomodado com o nó da gravata, admitia
estar com medo. "Ele está me enrolando há
dois anos. Quando minha mãe soube do casamento de graça,
foi ela mesma quem nos inscreveu", contou Ana Paula Araújo,
18, que mora com Everson Araújo, 21, desde os 13 anos
de idade. "Enrolei o quanto pude, mas, com esse casamento
comunitário, não teve jeito de escapar",
brincou ele.
Josefa da Silva, 62, e Jair Teixeira,
68, casaram-se ontem depois de 24 anos. Quando se conheceram,
Josefa era solteira, mas já tinha três filhos.
"Estou orgulhosa. Fui muito discriminada por ter filhos
sem um casamento."
Lua-de-mel
Durante a cerimônia, foram sorteados cinco pacotes de
viagens de lua-de-mel para Porto Seguro (BA). Mas os planos
de grande parte dos recém-casados não eram tão
românticos.
Eduardo Garcia teve que trabalhar
depois da cerimônia. Eliseu Gomes, 22, operador de máquinas,
também disse que passaria a lua-de-mel na labuta.
Gilberto Alves dos Santos, 46, já
dormia no ombro da companheira, Lenice, quando foi chamado
para pegar a fila da mesa. "Acordei às 4h. O cansaço
é grande, e vai comprometer a lua-de-mel, mas a gente
dá um jeito."
Silvestre Pereira, 29, e Priscila
da Paixão, 25, foram um dos casais ganhadores da viagem.
"Vamos trocar o prêmio pelo valor correspondente
em dinheiro", disse ela.
FERNANDA MENA
da Folha de S. Paulo
|