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Pouco depois de anunciar isenção do IPTU
para as vítimas de enchente, a prefeita Marta Suplicy
(PT) foi hostilizada ontem por um grupo de moradores da região
do Aricanduva (zona leste de São Paulo), uma das mais
afetadas pelas últimas chuvas.
Quando Marta tentou discursar, moradores jogaram lama em sua
direção. Ela não foi atingida, mas sim
uma jornalista ao seu lado. Marta desistiu de falar e entrou
no carro. Ao deixar o local, auxiliada por homens da Guarda
Civil Metropolitana, teve o carro esmurrado por moradores.
Mais tarde, Marta negou que tivesse
sofrido hostilidade. "Não fui recebida com lama,
mas com desespero. Estou aqui para dar solidariedade."
A visita ocorreu dois dias depois de ela ter discutido com
uma moradora do Jardim Jussara (zona oeste), área que
também foi afetada por chuvas na última segunda-feira.
O bate-boca foi transmitido pela TV.
Ontem, a prefeita visitou casas na
rua Ganges (travessa da av. Aricanduva) que estavam alagadas
e cheias de barro. Os moradores haviam perdido geladeiras,
fogões e boa parte da mobília.
Na casa de Karina Aparecida Firmo,
23, a prefeita pediu que fosse providenciada uma marmita.
"Pelo que vi aqui, não vai ter como fazer comida",
disse Marta.
Segundo Marta, os que tiveram as casas
alagadas, além da isenção do pagamento
do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), receberão
auxílio do SOS Cidade, um plano emergencial para arrecadar
de voluntários e empresários doações
de roupas, colchões, móveis e até eletrodomésticos.
Várias empresas anunciaram ontem mesmo adesão
à campanha.
"Para quem perdeu fogão,
geladeira, roupa, a prefeita acabou de anunciar que está
convocando todos os empresários. Nunca vocês
viram; a prefeita vem aqui e enfrenta o problema", disse
o secretário Jilmar Tatto (Transportes), do alto do
carro, enquanto tentava acalmar a população.
Muitos moradores gritavam "você não vai
se reeleger" e "mentirosa".
A hostilidade enfrentada por Marta
foi justificada por Alexsandro Gomes da Silva 29. Desempregado
e morador da rua Pataxó, ele perdeu todos os móveis
da casa. Para Silva, Marta não deveria nem ter aparecido
no bairro. "Ela veio aqui no dia errado. O povo está
todo revoltado, queriam até linchar a mulher. Veio
aqui pra quê, pra apanhar?"
Também moradora da rua Pataxó,
a metalúrgica Juliana dos Santos Belo de Almeida, 18,
teve o muro de sua casa derrubado. Para ela, a prefeitura
agiu errado. "Ela vem aqui falando de cesta básica,
de colchonete, a gente não precisa dessas coisas. Precisa
de dignidade, de honra e de vontade de viver de novo depois
disso tudo."
À tarde, Marta afirmou que
irá a Brasília hoje, reunir-se com o ministro
da Integração Nacional, Ciro Gomes, para obter
recursos para obras antienchentes.
A prefeitura atendeu em seis dias 1.072 famílias atingidas
pela chuva, volume sete vezes maior do que o registrado em
janeiro e fevereiro de 2003.
ISABELLE MOREIRA LIMA
da Folha de S. Paulo
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